18.9.04

PEDRO E OS LOBOS (act.)

1. A propósito do episódio Mira Amaral, um amigo chamava-me ontem a atenção para um estudo duma instituição universitária acerca das cerca de três centenas de criaturas que, de há mais de uma década para cá, circulam intermitentemente entre altos cargos gestionários - na administração pública, no sector empresarial estatal ou privado - e o poder político. Em torno destas 300 almas existe uma cumplicidade transpartidária, perfeitamente institucionalizada, que tem raízes subterrâneas inacessíveis ao comum dos mortais. Por exemplo, o Santo Nome de Deus é muito invocado, e nada em vão, para justificar pertenças e comunidade de interesses muito para além da inscrição em partidos diferentes. Ao pé destes sólidos e insólitos associativismos, velhos e novos, a Maçonaria é cada vez mais uma agremiação filantrópica de meninos do coro. Os antigos "monopolistas", tão caros ao regime do Dr. Salazar, foram substituídos por estas novas "aves de rapina" que o "pacote democrático" engendrou voluntaria e involuntariamente. Não é por acaso que Bagão Félix, ao comentar publicamente o assunto Mira Amaral, se revelou "incomodado" perante a brutalidade da evidência. O "quase obsceno" que murmurou é sinónimo da falsa credulidade do poder político perante este vampirismo crónico gerado ironicamente no seu seio e por ele alimentado. Quem diz Mira Amaral, pode dizer Pina Moura, Couto dos Santos, Murteira Nabo ou Álvaro Barreto e por aí fora. O ad hominem é o que aqui menos pesa. Toda esta obscura ou conhecida gente ronda agora Santana Lopes, como no passado rondou quem mandava, e assim será no futuro. Um dia ele acabará por sair, como saem todos. Os outros vieram para ficar.
2. Neste contexto, acho uma certa piada ao endeusamento de que Nobre Guedes anda a ser objecto por causa do inquérito à GALP. Guedes é claramente daquelas pessoas que "só dá um chouriço a quem lhe der um porco". O fatinho "verde", ataviado à pressa, assenta-lhe mal. Conseguiu, graças à distracção dos vizinhos do lado, vestir uma pele de cordeiro e passar por herói "anti-interesses". A "sua" "central de informação", com a ajuda de alguns ingénuos, encarrega-se do resto.

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