17.9.04

MARIA CALLAS



Numa das biografias da Callas, Tito Gobbi, esse extraordinário barítono e amigo da cantora, contava que, para o fim, o seu medo da solidão era de tal ordem que Callas adiava o mais que podia o regresso a casa quando se encontravam. Qualquer pretexto servia. Bastava um gelado para continuarem a dar uma "voltinha". Maria Callas, cujo desaparecimento ocorreu a 16 de Setembro de 1977, constitui seguramente um dos maiores fenómenos musicais do século XX. Nada ficou na mesma no mundo operático depois da sua passagem. Com um timbre particular - os puristas dizem mesmo que nem sequer era "bonito" -, Callas ressuscitou papéis há muito esquecidos e difíceis de trabalhar, tornando essas versões incontornáveis. Até aos anos 60, altura em que a sua voz começou a seguir uma direcção imprevista, quaisquer gravações da Callas são amplamente recomendáveis. Com a diluição da figura do "grande intérprete" nas produções e nas encenações dos dias de hoje, é mais complicado perceber o que significava esta genialidade pura. Callas passou por cá uma única vez para cantar La Traviata no São Carlos, no tempo do cada vez mais saudoso José Figueiredo. Os últimos anos foram passados entre o recolhimento e uma patética tournée mundial com Di Stefano, em que ambos eram já uma pálida imagem do que haviam sido. Os comprimidos, esses falsos amigos, eram o resto da companhia. Em Paris, a 16 de Setembro de 1977, Maria Callas, numa súbita vertigem, entrava definitivamente na eternidade que a consagrou e puniu.

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