20.9.04

A BANDEIRA

Depois de uma manifestação contras as touradas, em Lisboa, uns zelosos agentes da PSP detiveram um miúdo de 17 anos. Aparentemente o rapaz estaria a queimar um exemplar da bandeira nacional, bem à vista dos referidos agentes. O tratamento que deve ser dado ao "estandarte" nacional não inclui a imolação pelo fogo, apesar de a dita bandeira já estar "queimada" há muito tempo. Ainda recentemente, por causa do Euro 2004, os indígenas foram incentivados a dar todos os usos possíveis à bandeira e a colocá-la nos sítios mais extravagantes que lhes ocorresse. Suspeito até que alguns patriotas mais entusiasmados tivessem usado roupa interior com as cores verde e rubra, com laivos amarelados. É junto ao que nos é mais precisoso que devemos mostrar todo o nosso amor pátrio, nem que seja na intimidade de uma cueca. Como a SIC fez questão de recordar, a primeira-dama não escapou a este frenesim. Quando a selecção nacional se julgou perto do Olimpo, a senhora apareceu nos jogos ornamentada com uma t-shirt que era uma bandeira e com uma bandeira que era uma t-shirt. Nessa altura, Jorge Sampaio ainda não tinha terminado o seu mandato político e, na qualidade de "símbolo nacional", não pareceu muito incomodado com o facto. Provavelmente o rapaz irá "responder", como se costuma dizer, por este extraordinário delito anti-patriótico. Como me considero um cidadão do mundo que, por manifesta infelicidade, acabou por nascer aqui, este "incidente" impressiona-me tanto como as bandeirinhas nas janelas, nos carros ou como peça de vestuário da D. Maria José Ritta. Não sei do que é que as "autoridades" estavam à espera depois da banalização popularucha da bandeira feita por todo o verão, em apelos sucessivos e ridículos vindos das criaturas mais improváveis. O rapazinho de 17 anos é apenas filho da consentida insanidade geral em que vivemos, divertindo-se à sua maneira. Não sejamos, pois, hipócritas.

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