Já aqui escrevi que uma das maiores pragas dos tempos que correm - e que tanta alegria trouxe aos optimistas antropológicos - é o aumento da "esperança média de vida". Uma das suas medonhas consequências, uma vez que o "estado social" não aguenta tudo, é obrigar um tipo a trabalhar quase até ao minuto que antecede a entrada no forno. No fim de semana, o Le Monde (um jornal onde os nossos jornalistas podiam aprender qualquer coisinha) fazia manchete com o problema da "sobrepopulação". Há gente a mais no mundo e ainda querem que haja mais. Nascem pouco e poucos morrem. Quase todos têm de trabalhar até à queda final. Como escreveu Fernanda Botelho, "tudo à minha volta assume um cariz gerôntico." Para quê?
2 comentários:
Francamente, João...
Exacto, João Gonçalves! Para quê?
Eu partilho do entusiasmo desses optimistas antropológicos se ao aumento da esperança média de vida se acrescentar "com qualidade, liberdade e dignidade". Esta é, em meu entender, uma das reflexões mais importantes do nosso tempo.
Eu concebo a velhice como uma condição Respeitável, a mais respeitável (se isso for possível) das condições humanas.
Eu pessoalmente, quando chegar "a minha hora", gostaria que o mais novo dos meus descendentes nessa altura me recordasse como homem livre e digno. Que a memória que guardem de mim seja parecida com a memória que guardo dos meus avós.
Não estou interessado em "quantidade", estou interessado em "qualidade".
Enviar um comentário