22.12.06

LER OS OUTROS

"No princípio da semana, por exemplo, um rapazinho fanático, porta-voz da Deco, exigia que o Estado obrigasse por lei qualquer restaurante (ou qualquer hotel) a admitir crianças. Segundo a lunática lógica da criatura, o princípio da igualdade, constitucionalmente consagrado, obrigava a essa medida de justiça. Não lhe ocorreu que o princípio da igualdade não se aplica, sem qualificação, a crianças. Como não lhe ocorreu que se propunha limitar a liberdade do próximo. A ideia de que há restaurantes que oferecem cerimónia e sossego e pessoas que gostam de cerimónia e sossego só lhe inspira desprezo. Se o consumidor que a Deco defende quer jantar entre correrias, choradeira e berros, o Estado não deve permitir outra maneira de viver. O resto não interessa. Pouco a pouco, os "direitos do homem", pervertidos por pequenos grupos de pressão, que o Estado muitas vezes sustenta (para não ir mais longe, somos nós quem paga a Deco), vão servindo para criar uma sociedade minuciosamente vigiada. Não existe a menor diferença entre a actual ortodoxia "bem-pensante" e o jacobinismo ou o comunismo clássico. É a velha ambição de criar um homem racional e perfeito pela força política. Não por acaso os "marxistas" de ontem prosperam neste novo mundo. A tolerância sempre foi ou já se transformou em intolerância e há lugar para milhões de polícias."

Vasco Pulido Valente, in Público

3 comentários:

Anónimo disse...

Poucoa pouco VPV e outros "reconhecidos intelectuais" vão-se aproximando daquilo que falámos aqui: http://ortogal.blogspot.com/2005/02/ser-artista-e-ser-polcia-em-ortogal.html já lá vão quase 3 anos.

Era elegante que tais intelectualidades consentidas pelo regime, fruto da sempre-mesma linhagem familiar que lhes permite emitir opiniões sem perder o emprego, respeitassem a autoria de certos vaticínios, quando eles no seu devido tempo acabarem por se revelar. Oxalá porém eu me tenha enganado, e que VPV continue a dar-nos estes desassombrados textos, enquanto a imprensa politicamente correcta lho for permitindo. Cumprimentos ao Portugal dos Pequenionos e desejos de um Feliz Natal.

Anónimo disse...

Mas vocês também são pequeninos. Olhem que depois não entram...

Anónimo disse...

VPV, não tarda, vai ter muitas crianças aos gritos e às correrias no Grémio Literário ou no Gambrinos, ehehehe ...