17.12.06

RIVOLI

A CM do Porto entregou ao sr. La Féria a gestão do Teatro Rivoli. A sra. D. Ana Silva, da "Plateia" (?) protestou, falou de uma "rede" qualquer com dez anos, de subsídios e de bilhetes a 20 euros. A referida D. Ana achará que, entre ela e o sr. La Féria, o público hesita?

1 comentário:

Anónimo disse...

Nos dias de hoje, com a globalização, a massificação do consumo e o crescimento exacerbado da indústria do lazer, torna-se cada vez mais difícil distinguir o entretenimento da arte. O ideal consumista converteu a arte num produto de estética populista, fruto da cultura do entretenimento e formatado à lógica do espectáculo.
A lei do rentável foi matando a capacidade de discernimento do indivíduo, tornando-o apenas em consumidor ou consumível .
"Arts and Entertainments” - Os motores de busca na internet teimam em colocá-los sempre no mesmo directório e o facilitismo da estandardização faz com que essa lógica se vá apropriando do imaginário colectivo.
Ambas fazem parte da cultura universal mas com papeis substancialmente diferentes na sua capacidade de intervenção no indivíduo, na sociedade e, consequentemente, na História.

Muitos animais se divertem e entretêm mas apenas um faz arte – o Homem.
O entretenimento (sem as mais valias do convívio, da pedagogia, da ginástica, etc.) está associado apenas ao prazer e a arte vai muito para além disso, é muito mais abrangente e está inevitavelmente vinculada à inteligência, à intuição, ao raciocínio, ao sentimento, à imaginação, à expressão e a tudo o que nos transcende.
Jogar consola com o meu filho é entretenimento. Olharmo-nos nos olhos e sentirmos o amor que nos une, compreendendo e realizando a importância desse amor, é arte.
Um diverte, a outra sensibiliza, emociona, perturba e faz pensar, tocando, modificando, sendo dinâmico e vivo, fazendo evoluir.
Por vezes tocam-se, misturam-se, como o azul e o amarelo que dão verde. Mas não deixam de ser coisas completamente distintas.

Entreter é o espaço entre o que se teve e o que se vai ter, é o tempo em que não se tem nada, em que não se é nada, em que não se existe. Logo é necessário passar esse tempo para outra coisa ter, ser ou existir por nós. Recorre-se então ao passatempo que é uma espécie de encher um copo sem fundo, onde se tem uma sensação de satisfação e a ilusão da acção em si. Passar o Tempo é a coisa mais estúpida que se pode (não) fazer na vida. Simboliza a inutilidade por excelência e é sinónimo de inactividade e improdutividade. É queimar tempo de existência. Não no sentido da meditação e da introspecção mas no sentido da passividade no seu estado mais estupidificante.
Entretenimento é darem-nos algo já feito quando nós não estamos a fazer nada, é darem-nos uma comida já mastigada, ingerida e digerida...

O objectivo da McDonalds é fazer dinheiro ou boa comida? Claro que para os meus filhos é a melhor comida do mundo. Sabe bem, dá-lhes prazer comer. Mas será que lhes faz bem? Quando tinha a idade deles tinha o mesmo prazer a comer fruta arrancada directamente da árvore...
Não sei o que é que a McDonalds põe na comida para que as crianças (e não só) gostem tanto e quase se viciem, bloqueando o gosto por outros sabores, mas sei o que o Sr La Féria faz para entreter tanta gente... a resposta está nos sinónimos de entreter.
Entreter: deter, paliar (com promessas); enganar; recrear; divertir; distrair; suavizar.
O resto é atirar areia para os olhos e partir do principio que as pessoas não sabem fazer nada dando-lhes tudo feito. O que causa um efeito de satisfação de quem nada fez mas comprou feito. Há o pronto a comer, o pronto a vestir e o pronto a assistir...

Para acabar digo apenas que não sou contra a existência da McDonalds nem do sr. La Féria desde que não contribuam para o desaparecimento progressivo da boa comida e do bom teatro (quero dizer da comida saudável e do teatro inteligente).