1.7.03

ANONIMATO

O nosso amigo Guerra e Pás, em debate com o Crí­tico, insiste no tema do "anonimato" vs "disclosure", nos seguintes termos:

(...)Crí­tico:Eu prefiro blogues anónimos, valem o seu peso pelo seu conteúdo, e não por assinaturas. Claro que estimo o abrupto, o seu melhor conteúdo é o seu esforço, a sua dúvida inteligente e as poesias de VGM, estimo a escrita sôfrega e deslumbrada de aviz. Repare que a minha coluna da direita tem alguns blogues de perfeitos desconhecidos a um nível muito elevado. Porque motivo cirandar pelos MECs e Nelsons de Matos deste mundo? Com todo o valor que se lhes reconhece. São repositórios de conhecimentos antigos. Até o melhor post do Nelson de Matos é um texto repescado do DNA, aliás muito evocador e sobre o maior génio da escrita em prosa do século vinte português: Cardoso Pires.
Guerra e Pás: Várias vezes fiz a apologia dos blogs anónimos, que também prefiro. Mas, what can I say? Um anónimo não deve ser julgado por ser anónimo, uma truta não deve ser julgada por ser uma truta.

Como não estou virado para a glosa glosorum, vou ali a baixo repescar uma coisa que escrevi outro dia, acrescentando-lhe uma nota apenas.

1. É pertinente a observação de que, sendo isto a "pequena caixa de fósforos" que conhecemos, em que todos roçamos mais ou menos todos uns pelos outros, a identificação pode ter o efeito perverso de conotar o autor com posições política ou outra "coisamente" incorrectas, que lhe podem causar dissabores, num País onde a inveja e o ressentimento andam quase sempre de mão dada com a falta de sentido de humor e a pura ignorância;

2. Por outro lado, é saudável, visto do lado liberal, democrático e ironista em que me coloco, dar um "nome à coisa", dar o "meu" nome à coisa escrita, sem subterfúgios, não por vontade de exibição gratuita ou de crí­tica dirigida, mas porque assim posso testar - se bem que não esteja aqui para testar o que quer que seja - a maturidade cívica e intelectual dos meus putativos interlocutores, mesmo que eu nunca venha a saber quem eles são;

3. Na perspectiva em que sempre me coloco, nesta "blogomania" podem conviver saberes partilhados com ou sem nomes, em que alguns de entre eles me ajudam a "redescrever" o meu próprio vocabulário e as minhas próprias convicções, sendo que todos representam, de alguma forma, a apoteose da contingência, no sentido que Richard Rorty atribui a estas designações;

4. Finalmente, agrada-me a ideia de poder falar aqui livremente do que me interessa ou interessou: um livro, um discurso, um poema, uma reportagem, uma opinião, uma pessoa, uma situação, para poder dizer, se me apetecer e quando me apetecer, como no magnífico e já longínquo filme de Antonioni, " A identificação de uma mulher", "tu não és a minha norma".

Nota nova: Eu encaro este nosso "blogar" simultaneamente como o resultado do encontro entre o nosso gosto de escrever e algumas realidades que variam em função dos interesses dos autores. Assumo que aqui critico e digo bem, que evoco e que cito, e que aceito - no sentido de "tentar perceber" - o Outro. Corro naturalmente o pouco saudável risco de que haja sempre por aí um "Outro" menos disponível para "ser percebido"...E aí , serei "julgado por ser uma truta".

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