5.11.11

CINCO CHEGA

«Oficialmente, temos 14 feriados por ano em Portugal. De facto, temos mais e, até agora muito mais. Temos, primeiro, os feriados nacionais e, ao contrário de toda a gente, logo dois: o 1º de Dezembro e 10 de Junho. Tanto um como outro são meio inventados. O 1º de Dezembro supostamente comemora o fim do domínio espanhol, que na realidade não foi um "domínio", mas só uma união de Estados que continuaram independentes, sob o mesmo rei. O 10 de Junho, que para efeitos cerimoniais se chama "Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades" (e dantes se chamava "Dia da Raça") é em princípio no dia da morte de Camões (que ninguém sabe quando morreu) e parece que se destina a exaltar disfarçadamente o Império, que já acabou e de que, num tempo de correcção política, se não pode falar. A seguir, temos feriados políticos: que são três. Como era inevitável o 25 de Abril, a data da "revolução dos cravos", em que o regime celebra o fim da Ditadura e a presuntiva glória da sua obra; o 5 de Outubro, que introduziu uma República jacobina em Portugal e promoveu 15 anos de perseguição e violência; e, finalmente, o 1º de Maio, uma velha festa internacional dos trabalhadores, quando os trabalhadores eram "o proletariado". O resto dos feriados - nove - são feriados religiosos, por vezes misturados com um pouco de nacionalismo, que seguem o calendário da Igreja Católica (mesmo o Carnaval, que, não por acaso, precede a Quaresma). Nenhum destes 14 feriados, excepto o Natal, suscita ainda qualquer espécie de fervor: nem os nacionais, nem os políticos, nem os religiosos. Servem só - em combinação com sábados, domingos, feriados municipais (que nada impede um qualquer município de estabelecer) e "pontes" - para aumentar o recreio e repouso da população em várias semanas por ano. Com o compreensível propósito de acabar com isto, o Governo anunciou que iria diminuir o número de feriados; e a Igreja Católica, percebendo a sua fraqueza, ofereceu quatro. Ignoro o que o Governo pensa sobre o assunto, se pensa alguma coisa. Mas, razoavelmente, num Estado laico não devia haver mais do que três feriados religiosos (Natal, Ano Novo e Sexta-Feira Santa). Como num Estado pequeno e indigente não devia haver mais do que dois feriados, por assim dizer, civis: o 25 de Abril, fatalmente, e, para não pôr muito nervosa a esquerda, o 1º de Maio. Cívica e espiritualmente passávamos muito bem com estes cinco.»
Vasco Pulido Valente, Público

6 comentários:

Anónimo disse...

Mas não pode ser. A comunista Intersindical (e a beirã-UGT) defende raivosamente o direito dos seus 'sindicalizados' aos feriados religiosos; e, se necessário, sugerirá entusiasticamente a substituição do dia de 'certos santos' pelos dias de nascimento e/ou morte de numerosos outros 'santos' das revoluções. Mártires vermelhos e Datas triunfais não faltam. Por exemplo: o dia de S. Saramago.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Discordo.O 25 de Abril para mim caía já. Celebrá-lo é o mesmo que comemorar o terramoto de 1755. O 5 de Outubro comemora o asco do pior período político de Portugal.O feriado religioso do 1 de Novembro além da componente religiosa tem uma forte componente cultural, pois por antecipação a maioria das pessoas nesse dia visita os cemitérios comemorando os Fieis Defuntos, porque o dia 2 é de trabalho, para quem tem a sorte de o ter.

Joaquim Costa

Daniel Gonçalves disse...

Nesses 5 feriados propostos pelo Vasco Pulido Valente trocava o Ano Novo pelo feriado do 1 de Novembro, o dos Fiéis Defuntos, este sim com carácter religioso, espiritual e humano, afinal um dia de homenagem e recordação dos entes-querdidos falecidos e que serve para reflexão sobre o sentido da vida, que faz todo a lógica continuar a ser feriado.
Qual é o sentido religioso do Ano Novo nos dias de hoje? Nenhum, é uma festa sem qualquer religiosidade, comemorada na mais pura devassidão material e económica.

António Viriato disse...

VPV labora aqui em erros vários :

1- O 1.º de Dezembro foi inventado, sim, mas para restaurar a independência de Portugal; foi sangrento e levou a uma guerra de 28 anos com Espanha; todas as batalhas desta se sagraram pela vitória das armas nacionais; no final delas, a Espanha reconheceu a independência portuguesa e assinou Tratado de Paz;

2 - O domínio filipino não foi mera união dinástica, mas anexação política progressiva, cada vez mais asfixiante e que, a continuar, conduziria à subalternização, se não ao completo apagamento da cultura portuguesa, a começar no uso da Língua, tal como sucedera anteriormente na Galiza castelhanizada;

3 - A concessão que faz ao 25 de Abril, para a manutenção de feriado nacional, é mera contemporização de VPV com a Esquerda mais radical, com a qual, de resto, ainda conserva velhas «afinidades anti-fascistas»;

Lamento ter de dizer isto a um Professor de História, ainda por cima universitário, algo mitificado em intelectual incorruptível, «enfant terrible» de todos as maiorias governativas, mas a incoerência e a sem-razão também cobram seu preço.

VPV tem virtudes indesmentíveis como Historiador e como comentador político, mas, obviamente, não goza de nenhuma infabilidade e, por vezes, dá o flanco em toda a linha, como aqui neste seu pequeno artigo, em que andou arredado das musas inspiradoras, incluindo de Calíope, e também de algum, sempre necessário, bom senso.

Que as musas ora descortejadas lhe façam melhor companhia, nas próximas ocasiões, é o desejo que todos lhe devemos formular, assim como um pouco menos de presunção e um pouco mais de humildade cívica tampouco lhe causariam dano.

António Viriato disse...

Corrijo : infalibilidade e à musa Calíope, acrescento a Clio, as duas entidades que aqui abandonaram o nosso geralmente arguto, mas amiúde intratável analista político VPV.

Anónimo disse...

Concordo pelo pragmatismo.A exclusão do 25 de Abril iria criar muita polémica. Mas também é um facto que o 28 de Maio nunca foi feriado no tempo do Estado Novo.