10.3.11

A FALÁCIA DA "ESTABILIDADE"


«As eleições legislativas de 2009 acabaram assim não só por transformar um Governo maioritário num Governo minoritário - elas transformaram também o já pálido reformismo num conservadorismo de trincheira, e o Governo numa mera burocracia. Governo que de resto ficou sem programa ao fim de escassas semanas, quando começou a assumir a realidade da crise até então negada, e de que os números do desemprego são a mais dramática evidência. O imobilismo regressou, e a grande velocidade!... Ficámos desde então todos reféns de uma situação que, com o constante agravar da crise, ameaça intermitentemente conduzir-nos ao abismo. E também de uma estabilidade que se tornou numa forma de chantagem que apenas visa garantir o statu quo. Não é certamente por acaso que a estabilidade é a única ideia da moção que Sócrates leva ao Congresso de Abril. A estabilidade, é certo, permite apontar o statu quo como um mal menor. Mas é bom não esquecer que, como a história nos ensina, são inúmeros os casos em que um "mal menor" acaba por se transformar num "pior possível". Oxalá não seja o caso. José Sócrates (porque foi ele, mais o que o PS, que governou neste período) provou bem nestes seis anos que tem qualidades reais e não desprezíveis: um voluntarismo resiliente, um sentido agudo da opinião pública, uma notável habilidade táctica. Acontece que estas qualidades, que lhe permitiram chegar onde chegou, são exactamente as mesmas que o impedem de ir mais longe. E a nós, com ele.»



2 comentários:

a.marques disse...

Os navios afundados estão estáveis.

Anónimo disse...

O que MMC aponta como "qualidades" são apenas "características", que só se tornam em qualidades quando a pessoa em causa as usa juntando-lhe competência, carácter e um mínimo de espírito auto-crítico. Quando essas características fazem parte de um artista que pensa ser Deus e a Nossa Senhora, então tranformam-se em defeitos, como é o caso. E por desgraça, o caso é grave e incurável. A MMC faltou apenas completar com a coragem que falta à maioria dos analistas: reconhecer publicamente que as eleições de 2009 decorreram num ambiente de fraude organizada por omissão de informação, manipulação grosseira e demagógica dos funcionários públicos à custa de um Estado em sitação comatosa escondida e outras habilidades grosseiras, algumas delas a cargo da justiça, como o Caso Figo. De resto, MMC apresenta-se, como todos os outros que no partido assim pensam, na posição de abutre na altitude. Ainda assim, é das coisas mais decentes que por ali há, talvez a melhor e das poucas que lê e pensa, porque o resto do rebanho é um desatre que só fala e repete as ladaínhas da única luz que lhes dá a mais básica das esperanças: continuar a estar.