Estive a ler o livrinho da foto. "Passei" algumas das perguntas longuíssimas e presunçosas dos entrevistadores porque representam, tipicamente, aquele convencimento literato com que embirro à cabeça. Parece que eles é que são os escritores e que o escritor entrevistado se limita a "completar" as suas deambulações. Bolaño revela a sua ironia e praticamente nenhuma amargura por saber limitada (fisicamente) a sua vida (morreria escassas semanas ou dias após a derradeira entrevista do livro). Gostei particularmente das referências a Kafka (à "moralidade" de Kafka) e a Céline. É "correcto" - e Bolaño não escapou à "correcção" - etiquetar Céline como um grande escritor mas como um homem detestável. Mas, e Bolaño sublinha-o, os bons sentimentos nunca fizeram necessariamente a melhor literatura. Se méritos este livrinho de entrevistas tem, um deles é levar a ler Bolaño sem a vã pretensão de lhe erguer imediatamente uma estátua. E fazer com que os seus leitores procurem um poeta chileno de quem ele gostava muito, Nicanor Parra, uma presença constante em todas as entrevistas. «Du silence avant toute chose/ et tout le reste est musique/ moderniste.»
Adenda: E Jorge Costa - que "lê" muito bem a situação portuguesa - leu este Mark Twain.
5 comentários:
Corrija lá o «têm» do «livrinho de entrevistas».
Se o seu livrito trouxesse um artigo sobre o Francisco José Viegas (será que ainda vem alguém por aí com coragem para dizer que o rei vai nu?) e um índice remissivo também o comprava. Assim, vou esperar pelos saldos.
Peço desculpa ao leitor anónimo, mas o Dr. João Gonçalves escreveu correctamente a frase em questão. Aquele período que cita, é formado por 3 orações ou proposições que no conjunto lhe dão um sentido completo. A primeira oração, aquela que aqui interessa, é: "Se méritos este livrinho de entrevistas tem/..." Analisemo-la: sujeito 'este livrinho'; predicado 'tem'; complemento directo 'de entrevistas'; complemento indirecto '(se) méritos'. Nunca, jamais, em tempo algum se poderia escrever/dizer esta frase da seguinte maneira: "Este livrinho de entrevistas têm méritos..."
Para se evitar errar na construção de uma oração, basta alterar os elementos que a compõem e verificar se os termos são concordantes. Assim: "(Se) este livrinho de entrevistas tem (vários, alguns, muitos) méritos, um deles é...", etc.
Se a palavra 'livrinho' (sujeito) está no singular, é óbvio que o verbo 'ter' (predicado) - segundo a composição correcta de uma oração - terá obrigatòriamente que também estar. Do mesmo modo que se um sujeito/substantivo estiver no plural, o verbo/predicado TEM forçosamente que também estar.
(Mas isto - dizerem/escreverem o predicado no "singular" e sujeito no "plural"!!! - é um problema grave e de terrível analfabetismo, inadmissível vindo de quem tem a obrigação de falar e escrever correctamente a nossa língua pelos estudos superiores que detém, mas que se lê e ouve desde há muito tempo, dezenas de vezes por dia nas televisões, jornais e revistas e até em alguma literatura dita séria - sobre a 'light', como agora se diz, não me pronuncio porque não a leio - é um perfeito horror! Porém este é um assunto que necessita ser tratado em pormenor, pelo que ficará para mais tarde).
Consequentemente a frase/oração está correcta. Aliás outra coisa não seria de esperar de quem se exprime/escreve num português correctíssimo, como é o caso do autor do Blog.
Maria
Maria,
Não está em causa o bom português do autor do blog. Apenas a construção inicial da frase, que, certamente por lapso, tinha «têm» e não «tem», como está agora depois de corrigido. Mas, repito, estes lapsos só não acontecem a quem não escreve em blogues. Não tem qualquer significado, nem diminui a qualidade do português que geralmente por aqui se lê.
Peço desculpa por ter interpretado erradamente a sua chamada de atenção para a alteração da acentuação do verbo na dita proposição. Só li o escrito do autor do Blog após já ter sido corrigido o lapso.
Mas lá que achei um pouco estranha a sua observação (por mim assim subentendida), lá isso achei.
Maria
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