«Face a esta situação [lucros pornográficos da GALP em 2008 e a sua posição preponderante no mercado de distribuição] exigia-se que a Autoridade da Concorrência tivesse feito muito mais. E que o Governo não tivesse decidido intervir de forma desastrada, ao criar uma famosa “taxa Robin dos Bosques”, uma invenção berlusconiana que Sócrates se apressou a seguir. Com essa taxa o Governo pretendia tributar as mais-valias que as petrolíferas poderiam estar a fazer ao venderem combustível mais caro na alta e ainda terem reservas compradas a preços muito inferiores. A sua aplicação foi um flop orçamental, mas levou a gestão da Galp, que não brinca em serviço, a actuar de forma prudente quando os preços do crude começaram a baixar nos mercados internacionais. E compreende-se porquê: é que a “mão iluminada” do Estado anunciara que viria à procura das mais-valias, mas nada dissera sobre as potenciais menos-valias para a companhia de baixar depressa os preços quando ainda estava a fornecer produtos derivados de petróleo comprado a mais de 140 dólares. O resultado final está à vista: os automobilistas e os transportadores pagaram a factura nas bombas de gasolina, os portugueses não automobilizados pagaram-na no custo acrescido de muitos produtos devido à alta dos custos de distribuição ou de energia. O nosso Sócrates, que ainda há pouco anunciou que vai de novo vestir a pele de Robin dos Bosques, conseguiu que o resultado final de ter ido atrás do populismo “à la Berlusconi” fosse ter tirado aos pobres para dar aos ricos. É agora, que conhecemos as contas finais e a Galp tem de mostrar os seus números ao mercado, que tudo ficou a claro. Falta de concorrência, falta de fiscalização e um medida populista do Governo ajudaram a Galp a ter lucros recorde e nós todos a ter de pagar mais por cada litro de combustível.»
José Manuel Fernandes, Público
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