15.3.09

NÃO O SUBESTIMEM



Aos quatro anos do governo Sócrates juntaram-se os três anos do mandato presidencial de Cavaco. Miguel Sousa Tavares, por exemplo, levou três quartos do seu artigo semanal do Expresso a elogiar" as "virtudes reformistas" (julgo que ele até usa o termo "ímpeto" que sempre é mais sensual e envolve o "determinado" Correia de Campos injustamente varrido para paineleiro numa televisão em vez de continuar a brindar-nos com a sua prestação ministerial) da primeira parte do "socratismo" para terminar desiludido e, mais uma vez, desculpar o engodo "socrático" com a crise. O admirável líder, conclui o telenovelista de sucesso, "está sem rumo" e não é (extraordinária descoberta) um Obama. Quanto a Cavaco, Vasco Pulido Valente - que nunca conseguiu ver-se livre daquele seu ódio de classe e de intelectual "burguês" contra o "camponês de Boliqueime" - convocou, para comparação, o seu amigo Mário Soares (presumo que acompanhado pela sra. Dra. Maria de Jesus), esse sim um "modelo" de "anti-provincianismo" e de "anti-solenidade" pátrias. VPV gostava que Cavaco não se recandidatasse e não o tem escondido em textos e na televisão. Compreende-se. Cavaco é um estorvo para a intriga de que se alimentam os media, os blogues, os "twitters" e os "facebooks". Estraga-lhes os biscates. É, por isso, maçador e parece conformado com Sócrates. Até será politicamente impotente, segundo Medina Carreira que o comparou ao pusilânime Marcello Caetano. Ninguém minimamente sério esperava que Cavaco viesse comungar do circo irresponsável em que esta gente vive para gáudio do admirável líder que tem feito tudo para "provocar" o Presidente. Sucede que Cavaco tem de esperar pelo decurso do tempo político. Desenganem-se aqueles que o imaginam (desejam) trivial. É bem provável que, daqui a uns escassos meses, este absolutismo ridículo (e a actividade circense circundante) se estatele aos pés do Presidente. Nesse momento, o que o país menos vai precisar é de um "gajo porreiro", como Soares, ou de um indeciso de lágrima afiada em Belém. Desde a Figueira da Foz, em 1985, Cavaco nunca dormiu em serviço. Não foi, aliás, VPV quem, um dia, recomendou estas coisas ao seu amigo Soares? «Não se aproxime dele, não lhe fale, não lhe toque. Não se convença que negoceia com ele. Ele não gosta de negócios?» É isso mesmo: ele não gosta de negócios. Não o subestimem.

(Clip: Puccini, Turandot, "Nessun Dorma". Plácido Domingo, Met. NY)

10 comentários:

Anónimo disse...

Interpretei bem o que escreveu? Que VPV pretende que Cavaco se não recandidate porque: «Compreende-se. Cavaco é um estorvo para a intriga de que se alimentam os media, os blogues, os "twitters" e os "facebooks". Estraga-lhes os biscates»???

João Gonçalves disse...

Não sei o que é que "interpretou" nem me interessa. Mas foi isso mesmo que escrevi. Não sabe o que é um biscate? Quanto a restantes anónimos, como nome ou sem nome, que vêm aqui "provocar", lixo.

Anónimo disse...

Não faço provocações, mas nenhum dos motivos que apontou são, com alguma verosimilhança, assacáveis ao históriador, daí a surpresa e a pergunta, que não era retórica.
Quanto a Cavaco, quem dera que houvesse surpresas, mas não foi ele o entusiasta do betão? Ainda conto que MFL comece a ser vista como a única opção viável, mas a esperança não é grande
Registei o seu realismo em matéria interpretativa.

Anónimo disse...

Vasco Pulido Valente. Recordamos este grande homem, este grande senhor com imensa ternura. Vasco PV é um homem de uma universalidade ímpar: dos afectos pelos seus semelhantes e ainda mais pelos seus dissemelhantes, duma experiência intelectual dotada sempre duma generosidade sem par, duma sobriedade inexcedível que lhe ocupa todos os gestos, todos os pensamentos, todas as suas noblíssimas intenções.
Vasco PV irradia iluminação e o calor que aquece os espíritos mais frágeis, sempre à procura da sua douta e serena expressão.
Ele é uma fonte do Bem, do equilíbrio dos Grandes Seres, do Saber dizer as palavras que a todos confortam.
Vasco PV imana compreensão e aceitação plenas.
Bem hajas Vasco PV por seres a bondade feita homem, e a presciência feita palavra.

Unknown disse...

Excelente, Caro João.

Anónimo disse...

VPV nunca escondeu que tem em relação a Cavaco um preconceito de classe. Por isso, as suas análises estão sempre condicionadas por essa atitude preconceituosa. Depois, ainda não digeriu a derrota humilhante do seu querido amigo Soares infligida por esse provinciano de Boliqueime em 2006. Mais vale ser de Boliqueime e o que isso significa na cabeça de VPV, do que fazer as figuras tristes de Soares, completamente ao serviço dos caprichos do Querido Líder.

Karocha disse...

eheheh Joâo

O blog anda cheio de Anónimos, gente de "Alto Gabarito"!!!!
Como eu não sou...

Anónimo disse...

Bem, mas três coisas são certas:
1 - Cavaco não pode ultrapassar a Constituição (nem, aliás, o faria nunca):
2 - Cavaco não pode governar o país, porque isso não compete ao Presidente.
3 - Cavaco é obrigado a respeitar a vontade do povo.

João Gonçalves disse...

E o prof. Cavaco Silva foi posto em Belém como? Com um guindaste?

Anónimo disse...

Evidentemente Cavaco pode dirigir mensagens criticas ao país e ao Parlamento,pode dissolver a Assembleia,ou seja poderia criar grande perturbação politica num momento relativamente próximo de escolhas eleitorais e em que a crise para a maioria das pessoas parece aconselhar contenção nos jogos politicos desse género "fundamentalista". Mudar o regime de modo a impedir a participação dos actuais partidos e protagonistas não o poderá obviamente fazer com esta Constituição que ele jurou respeitar e defender. Assim, os votos sidonistas do dr.Gonçalves só se poderiam realizar através do mesmo método usado pelo próprio Sidónio,ou seja uma revolução e,eventualmente, uma nova Constituinte. Talvez um regime plenamente presidencialista agradasse teòricamente ao Cavaco,mas tenho dúvidas que seja o homem para a necessária conspiração,para obter o apoio militar,para afastar defitivamente as figuras politicas do "regime",etc. O Cavaco aprecia a respeitabilidade,a aprovação europeia,etc. Duvido que os neo-sidonistas possam ir por aí. Os apelos que tenho visto nos blogues à revolta popular e à democracia directa não parecem sair da própria blogosfera,e os movimentos que talvez não desdenhassem como o do Pinto Coelho e Mário Machado não parecem ter gozado até agora de impressionante adesão popular. No tempo do Sidónio as revoluções eram mais fáceis e correntes, não havia compromissos europeus,e sobretudo ele era alguem com uma elevação mental e até politica que nenhum dos putativos sucessores está longe de alcançar. Seja realista,dr.Gonçalves e veja o que pode ir arranjando com esta "prata da casa",que não é de grande qualidae,é certo, mas não me parece haja heróis à espera nos bastidores. A mediocridade não é exclusiva desta classe política nem deste tal "regime" que tão maltrata,mas do nivel geral da população,avessa a reformas,conformada com a sua humildade,como lhe recomendou muitos anos um dos seus "maîtrea à penser",e aceitando pacificamente a descida de nivel de vida que a crise obrigatòriamente lhe trará,e que espera que o resto do mundo e a Europa em particular,lhe virão em tempo a resolver. O tempo do Sidónio,matemático,diplomata e homem de estado,é irrepetivel em 2000 e picos.É assim.