5.3.09

CUIDADO COM AS APARÊNCIAS

São poucos os que explicam com clareza, a propósito das sucessivas descidas das taxas de juro decretadas pelo BCE, que essas descidas se, por um lado, aliviam provisoriamente a carteira daqueles que recorreram a crédito para compra de habitação, por outro traduzem uma terrível situação: a da recessão em curso - agravada a cada dia que passa - nas economias da "zona euro". Cavaco, um homem realista, deve vir da Alemanha com os cabelos em pé. Por isso, abrir os telejornais com as continhas sobre as prestações com setas para baixo pode não passar de uma perigosa ilusão e de mais um momento de propaganda puramente demagógica. Não é por acaso que o governo apareceu a correr a agarrar-se a isto porque é o tipo de música que as pessoas gostam de ouvir e vêm aí eleições. Cuidado, pois, com as aparências.

Comentários esclarecedores de leitores:

«Ainda há pouco ouvi na RTP, o pivot de serviço, afirmar que este ano os portugueses vão ter umas férias mais "recheadas"... Até foram pr'a rua dar essa notícia a uns incautos transeuntes... Só mesmo neste país de broncos.»

«Ninguém pode negar que é um alívio real para largos milhares de famílias, mas é dinheiro que não vai gerar poupança nem beneficiar a economia (porque simplesmente não vale a pena guardá-lo ou investi-lo). Aliás, este dinheiro vai ser mais tarde sugado em impostos para suportar o colchão que está a ser dado aos bancos. Provavelmente, vai também ser sugado com os custos de operações bancárias que (adivinho) irão aumentar muito brevemente. A CGD, por exemplo, aumentou as despesas de manutenção das contas, com um agravamento significativo nas contas com saldo médio inferior a 1000 euros - o que afecta muita gente.Outro factor, deste alívio, é que permite ao mercado imobiliário manter os preços das habitações em níveis sobrevalorizados. O que estoirou a "bolha da habitação" que despoletou a "crise" não foi os juros (que nunca foram elevados): foi precisamente o preço das habitações e a acumulação de créditos pelo facto de os juros serem baratos.»

5 comentários:

Anónimo disse...

segue-se a deflação (deflation):
caída dos preços por diminuição de procura.
menos dinheiro e emprego levam a quebra de produção.

ninguém informa onde investir as escassas poupanças

radical livre

Anónimo disse...

Há já indícios suficientes para a crescente desestabilização económico-financeira na zona euro.
Até há quem afirme que o euro está prestes a colapsar...

Há muitos biliões de euros aplicados no crédito hipotecário norte-americano (sub-prime); muitos biliões aplicados na banca zombie e sub-prime da Europa de Leste; muitas injecções estatais na banca sem resultados palpáveis; muita teimosia do Sr.Trichet em não ter actuado atempadamente quando a crise financeira mundial já cavalgava toda a sela,etc.

Para enganar a palonçada dos eleitores e contribuintes os diversos "governos europeus" (a Comissão ou a UE como tal não existe!) vão anunciando medidas e mais medidas e até já arranjaram um bode expiatório: os offs shores!

Não interessa a estes governos falarem da sua responsabilidade politica e fiscal; da falta de regulação e supervisão; não interessa falar da constante e crescente extorsão fiscal que aconteceu nesta última década sobre os cidadãos e empresas; não interessa falar dos autênticos desperdícios públicos para alimentar clientelas; não interessa falar da corrupção de topo de gama; não interessa falar do autêntico desastre que tem sido o actual modelo de "estado social" que de minuto a minuto enriquece uma minoria e empobrece uma esmagadora maioria; não interessa...

O que interessa é dizer que a culpa de toda esta crise recessionária mora algures numa afrodisíaca ilha das Caraíbas, no Mónaco ou no Liechtenstein...

Como disse o nosso Ministro das Finanças; como disse ontem o baboso do Gordon Brown, PM da Grã-Bretanha, ex-Chanceler das Finanças e um dos responsáveis politicos pela actual situação mundial...

Para enganar os papalvos as "entidades responsáveis" através dos acríticos OCS vão informando que as "prestações vão baixar"...

Tudo embrulhadinho em papel de oferta com laço a preceito...

Anónimo disse...

Bom post. Acho importante desmontar a ideia (que, como apontou JG pode ser aproveitada politicamente) de que taxas de juro quase a zero se traduzem nalgum benefício para a economia.

Ninguém pode negar que é um alívio REAL para largos milhares de famílias, mas é dinheiro que não vai gerar poupança nem beneficiar a economia (porque simplesmente não vale a pena guardá-lo ou investi-lo). Aliás, este dinheiro vai ser mais tarde sugado em impostos para suportar o colchão que está a ser dado aos bancos. Provavelmente, vai também ser sugado com os custos de operações bancárias que (adivinho) irão aumentar muito brevemente. A CGD, por exemplo, aumentou as despesas de manutenção das contas, com um agravamento significativo nas contas com saldo médio inferior a 1000 euros - o que afecta muita gente.

Outro factor, deste alívio, é que permite ao mercado imobiliário manter os preços das habitações em níveis sobrevalorizados. O que estoirou a "bolha da habitação" que despoletou a "crise" não foi os juros (que nunca foram elevados): foi precisamente o preço das habitações e a acumulação de créditos pelo facto de os juros serem baratos. O que rapidamente leva à saturação do consumo.

O que devia baixar para aliviar significativamente as famílias (os combustíveis e as telecomunicações), isso não baixa. Num país como o nosso, sem capacidade de investimento individual e extremamente dependente do Estado, ter entregue de mão beijada os sector estratégicos aos privados foi um erro colossal. Sobretudo porque o Estado, sem os sectores estratégicos, não serve para nada.

Por isso, é ainda mais ridículo ouvir as declarações, ontem, do ex-governador do Banco de Portugal, afirmando que os salários devem ser congelados... Sou um leigo em economia, mas isto não passa pela cabeça de ninguém. Congela-se os salários quando o que importa é que as pessoas tenham dinheiro vivo no bolso?

Se pensarmos que o Governo se prepara para fazer investimentos faraónicos que nem daqui a 30 anos vão ser amortizados (porque não há dinheiro nas empresas para tirar partido dessas infra-estruturas), que daqui a 4 anos vamos dizer adeus aos fundos comunitários (que pagam salários a largos milhares de pessoas...

... Sinceramente, não vejo que isto se vá endireitar brevemente.

Se alguém tiver dinheiro de lado, compre um terreno e faça uma horta. Vai precisar dela.

Anónimo disse...

8:40 PM:
Bem esgalhado!

Anónimo disse...

Acusam-se os bancos de terem contribuído para o individamento das pessoas através da facilidade de concessão de crédito.
Mas foram apenas os bancos os culpados?
Veja-se o que se passa agora com a redução das taxas de juro. A comunicação social, por vontade própria ou alheia, não se cansa de chamar a atenção para tal redução.
Não vejo ninguém a aconselhar as cabeças tontas ao aforro do diferencial proporcionado pela descida das taxas, por forma a que tenham alguns recursos para quando elas voltarem a subir.
E, quando isso acontecer, virá de novo a lamúria habitual.