«Trinta e tal anos de regime criaram um cinismo político geral. À volta do PS e do PSD há meia dúzia de fanáticos, que ninguém leva a sério, e uma corte de carreiristas, que ninguém respeita. Tendo governado o país simultânea ou alternadamente, nem o PS nem o PSD inspiram hoje qualquer confiança. Colonizaram o Estado e a administração local por interesse próprio e cometeram (ou permitiram que se cometessem) erros sem desculpa. Desorganizaram a sociedade, ou mesmo impedirem que ela se fosse por sua vontade organizando, e levaram Portugal a uma espécie de paralisia de que não se vê saída. Apesar de um ou outro protesto melancólico e corporativo, o público já não se interessa pelo seu futuro, ou pelo seu presente, colectivo. Nem Sócrates, nem Ferreira Leite percebem, no fundo, o que se passa. Sócrates persiste em repetir a sua velha ladainha, inteiramente desacreditada, com o entusiasmo de 2006. Ferreira Leite (a "tia Manuela", como agora popularmente lhe chamam) critica a evidência e recomenda os remédios do costume. Cada um à sua maneira, os dois falam uma nova "língua de pau", que os portugueses não ouvem ou que não registam. Talvez por isso, não falam muito e quando falam, excepto pelas querelas de partido e pelo vaguíssimo contraste entre o maior "liberalismo" de Ferreira Leite e o improvisado "neo-keynesianismo" de Sócrates, concordam no essencial. O PS e o PSD são o regime e não podem ou tencionam tocar no regime. A reforma de Portugal, se por absurdo vier, não virá dali.»
Vasco Pulido Valente, Público
Vasco Pulido Valente, Público
4 comentários:
O pior é que também não se vislumbra de onde poderá vir, se por absurdo vier.
É bem verdade, veja-se o exemplo das traições dos próprios autarcas do PSD:
http://www.peliteiro.com/2008/09/blog-post_5700.html
Totalmente de acordo com o anónimo da 1:00 PM. Onde estão os "outros"? Onde estão os "anti-regime",onde estão os seus programas,os seus projectos,as suas soluções? Aguarda-se ansiosamente a aparição de um só texto que seja para nos iluminar.E penso que o militante Blog do dr. Gonçalves,que tanto barafusta contra o "regime", seria um óptimo lugar para ouvirmos(ou lermos) as palavras salvíficas. Coragem,dr. Gonçalves,avance!
Está instalado de uma vez por todas na vida politica portuguesa o fantasma do bloco central, que hoje muito se fala, e que é o desejado por a maioria parlamentar (falando concretamente do PS e PSD), havendo alguns interesses que terão de ser negociados por ambas as partes para se concretizar. Basta verificar o programa politico do PSD, ou a falta dele, encabeçado por Manuela Ferreira Leite, que pelos vistos concorda em pleno com as politicas praticadas pelo actual governo. O seu silêncio é como nos dissesse "Como partido da oposição não concordamos com tal politica, mas se lá estivessemos era essa mesmo que praticavamos". A actual conjectura politica está podre, é dividir para reinar. É obrigar os portugueses a tamanhos sacrificíos para pagar as facturas das más governações. As ditas reformas que o primeiro ministro tanto se orgulha de apreguar, servirão somente para sustentar a máquina que está a ser montada por este bloco central, que é a criação de institutos, empresas publicas com gestão privadas que darão prejuízos na ordem dos milhões graças às administrações que serão encabeçadas por os membros deste mesmo bloco. Estamos a caminhar para o fim da democracia constitucional para a democracia imposta pelo bloco central, basta perceber que estes dois partidos juntos têm a maioria necessária para mexerem na constituição a seu belo prazer. Cuidado, muito cuidado portugueses.
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