Algumas vezes foram aqui feitas referências a Susan Sontag. Lembro-me de a ter escolhido para o “4 de Julho” do ano passado e de ter aconselhado a leitura de alguns dos seus livros de ensaios. Está tudo no “arquivo”. Sontag, contudo, é alguém que dificilmente consigo imaginar “arquivada”. Se procurasse uma imagem para a definir, seguramente teria de recorrer a qualquer coisa que me lembrasse “movimento”. À romancista preferirei sempre a ensaísta arrebatada e complexa, no que esta palavra tem de vital para o pensamento. Em 1996, tive o privilégio de a ouvir na Fundação Calouste Gulbenkian. Sontag exibia com elegância a vantagem do polemista sem nunca pisar o risco da banalidade ou do cabotinismo, tantas vezes disfarçados numa bela ideia. A sua leitura é um exercício permanentemente estimulante. Era, como todos os obituários não se cansam de repetir, a mais europeia dos intelectuais norte-americanos. Não me revejo inteiramente em tudo o que dela li, porém considero-a um dos escritores mais cosmopolitas do nosso tempo. Neste sentido, o seu desaparecimento, no culminar de uma longa e intermitente luta contra a doença, espelhada, aliás, num dos seus ensaios mais conhecidos (A Doença como Metáfora), constitui uma enorme perda. The greatest effort is to be really where you are, contemporary with yourself, in your life, giving full attention to the world. That ´s what a writer does. I’m against the solipsistic idea that you find it all in your head. You don’t.
Adenda: Ler, no Aviz, "Sontag".
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