8.12.04

BEIJO DE MORTE?

Estive entre os cerca de dois mil cidadãos que jantaram ontem com Mário Soares. À excepção do PCP, estava lá um pouco de tudo e, naturalmente, muito do PS. As coisas, apesar dos tempos, passaram-se com a sobriedade que a idade do homenageado recomendava. Não houve comício nem bravatas. Os discursos, o de Soares e o de Vasco Vieira de Almeida, limitaram-se a recordar os difíceis caminhos da liberdade e um indiscutível património da democracia. Uns quilómetros mais para cima, em Famalicão, reuniu-se noutro jantar um pequeno partido de uns pequenos políticos. Esse pequeno partido e esses pequenos políticos querem agora apresentar o seu "chefe", montado numas corvetas, como o salvador da Pátria, inclusivé com efeitos retroactivos. Como gato a bofe, agarraram-se às conclusões da comissão de inquérito a Camarate e não manifestaram o mínimo pudor em fazer delas arma de arremesso. Sá Carneiro não merece estes epígonos de circunstância e estes acessos oportunistas de mau gosto. Ao longo destes vinte e tal anos o fundador do PSD tem servido para praticamente tudo. Muitos se quiseram e querem afirmar às costas da sua memória e do seu legado político. Porém, qualquer semelhança entre Sá Carneiro e esta pequena gente é mera e rídicula coincidência. Os principais dirigentes da coligação disputam hoje a sua "herança". Um deles está a mais. Não sei se outro dia, ao dizer que tinha ao seu lado "o melhor" ministro da Defesa, o primeiro-ministro não estava elegantemente a dar um beijo de morte.

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