18.12.04

SANTANA LOPES, RETRATO DE UM LISBOETA CONHECIDO



Em condições "normais", com políticos "normais" e em circunstâncias "normais", estaríamos a celebrar o terceiro aniversário da presidência camarária de Lisboa de Pedro Santana Lopes. A sua vitória, à 25 ª hora, terá ajudado a ditar o abandono de Guterres na mesma noite, abrindo o caminho para Barroso em Março do ano seguinte. De tudo isso só restam hoje ruínas. A história destes três anos é o registo de um imenso fracasso. Na Câmara tudo começou mal e conseguiu acabar pior. A benefício da pura propaganda, a cidade foi inundada pela realidade virtual. O "neo-realismo" santanista não resistiu a deixar marca e o centro esventrado da cidade é o melhor vestígio deste estranho iconoclasta. A inesperada subida aos altares de São Bento só veio agravar a coisa. Lisboa tem agora um sério problema político e técnico que a leveza do seu presidente legou aos vindouros, os próximos e os outros. Não se pode dizer que tivesse "ficado a meio" porque, na realidade, nada de verdadeiramente sério se iniciou. A forma atribulada e descomposta como se anunciou o "enfrentamento" dos "problemas" redundou em qualquer coisa aproximada ao caos. Não contente com isto, Barroso convidou o caos a instalar-se no governo da Nação. Os terríveis e originais meses que nos estão a ser propiciados ficam indelevelmente gravados na "memória" da democracia. O "talento" santanista estatelou-se miseravelmente aos seus próprios pés. A "natureza" de Santana Lopes falou sempre mais forte do que o seu "instinto", esse tão famoso "instinto". Com a gente certa e com a "cabeça "certa, talvez tudo pudesse ter sido diverso. A leitura do discurso de posse como primeiro-ministro serviu no entanto de "guião" para a tragicomédia que se ia representar daí em diante. Por fim, até Portas percebeu a balbúrdia e procura agora salvar os galões conquistados no poder com a distância. O PSD, mais do que se arrastar na campanha por ele, tratará antes de salvar no limite as sinecuras ocupadas. Isso, e apenas, isso agitará bandeiras. Aparentemente nada disto preocupa excessivamente o ainda primeiro-ministro, transformado, por iniciativa própria, no "combatente" por uma causa inteiramente nula. O acordo defensivo e "negativo" que celebrou com o PP é maior confissão pública de uma derrota anunciada. É a primeira vez na história da nossa democracia que dois partidos "se entendem" exclusivamente para minorar a desgraça do maior deles. Sabe-se agora que Santana rastejou junto de Portas, e até ao último minuto, para obter uma coligação que lhe controlasse e dividisse os danos. Porém, a derradeira companhia que o líder do PP desejava para a campanha das feiras e da televisão era justamente a do seu querido amigo "de mais de vinte anos". O grotesco argumento do "dois em um", utilizado pelo CDS/PP para justificar o acordo e, eventualmente, um governo de "segundos partidos" depois de Fevereiro, só serve mesmo para disfarçar o óbvio. Paradoxalmente ou talvez não, Santana Lopes, três anos após o triunfo em Lisboa, é tão-sómente um homem que caminha sozinho sobre o vazio .

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