A recente entrevista do dr. Paulo Portas à RTP é bastante significativa. Portas, sobretudo desde que assumiu funções governativas, quer dar de si próprio e do seu pequeno partido uma imagem institucional. Depois de ter alcançado o Estado graças à generosidade oportunista do PSD, Portas passou a comportar-se - ou a parecer que se comportava - de forma diferente daquela a que nos habituou. Fundamentalmente Portas sempre se caracterizou como um "anarquista de direita". Quando lhe convém, o que acontece amiúde, coloca-se na pseudo margem do "sistema" e foi assim, um pouco como um "Bloco de Esquerda" ao contrário, que cresceu. Nem que fosse por isto, quem, no PS, olha voluptuosamente para o BE, devia pensar duas vezes. Voltando à entrevista, cheia de picardias para com o seu parceiro actual, Paulo Portas apareceu "contaminado" pelos anos de ministro da Defesa Nacional. Olhou para o seu "espaço político" - o dele e o dos outros - como quem contempla um regimento. Quer esse espaço "disciplinado", uma palavra que repetiu por diversas vezes. Revelou-se intolerante perante o pensamento diverso na mesma área política e aí, uma vez mais, reclamou "disciplina". Nem Cavaco Silva foi poupado, no que representou seguramente o melhor elogio da noite para o professor. Qual general, Portas atacou os snipers do "centro-direita" e apelou à condição disciplinada de todos como meros soldadinhos obedientes. Certo é que o PP quer ser "chamado" de novo, depois de 20 de Fevereiro, dê lá por onde der. Apesar do esforço, toda esta encenação para-militar trouxe de novo à tona o original Portas e, com ele, o velho problema da credibilidade. Até pela circunstância de o conhecer, preferirei sempre o "anarquista" ao empertigado "comandante" de homens que nunca pediram para ser soldados e, muito menos, "seus".
Sem comentários:
Enviar um comentário