14.12.04

PARTES SEM UM TODO

Sempre pensei que Santana Lopes quereria desfazer-se do governo mais tarde ou mais cedo. Em certo sentido, ele foi sempre um falso primeiro-ministro. Era algo que definitivamente não estava "escrito" nas suas "estrelas". Ficámos agora a saber que, depois do discurso do Presidente, também ele quis fugir e passar a pasta ao número dois. Escrevo "também" porque a "arte da fuga" ameaça tornar-se uma trivialidade entre nós. Guterrres, o sorridente peregrino, foi o primeiro a afastar-se na primeira contrariedade eleitoral. Explicou recentemente que o "pântano" de que fugia não era o dele. A beatitude do seu gesto visava antes evitá-lo para o futuro, disse. Trata-se obviamente de um malabarismo recuperado pelo velho conspirador de sotão a pensar já nas presidenciais. A segunda fuga foi protagonizada por Barroso. Mais sofisticada, não deixou de representar uma saída airosa (só para ele) face a uma maioria precocemente anquilosada e claramente derrotada nas "europeias". Chegou agora a vez de Santana Lopes. Infelizmente para ele, a tentativa de fuga não resultou. Terá que ficar "amarrado" ao seu governo e à sua prolixa maioria até ao fim. Não me supreende esta intenção de abandonar a função de primeiro-ministro. Só a Figueira da Foz teve o privilégio de o ver cumprir qualquer coisa. Santana Lopes é humano e tem um problema com a vida, expresso em letra de forma por Fernando Pessoa. Tudo nele se resume a um conjunto circunstancial de "partes sem um todo".

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