Arranjei coragem para ir ver Alexander The Great, de Oliver Stone. Parece que a "crítica" não gostou. Eu aguentei bem as três horas. Colin Farrell, o protagonista, faz o que pode mas não é excessivamente credível. Anthony Hopkins é simultaneamente o narrador e o "sucessor" mais sensato no Egipto, Ptolomeu. Angelina Jolie, com aquelas beiças pornográficas, é a mãe "bruxa", Olímpia. Val Kilmer, zarolho, compôe um violento Filipe II da Macedónia. Apesar dos solavancos com que a "história" é contada e do cabotinismo de um ou outro diálogo, o personagem real, Alexandre da Macedónia, é demasiado interessante para que o não consideremos. Em certa medida, foi o percursor - ainda que não absolutamente realizado - do famoso "diálogo" entre o "ocidente" e o "oriente", trezentos e tal anos antes de Cristo. Era um visionário que queria sempre ir mais longe. Como de costume, não teve propriamente herdeiros políticos à altura. Todo o império, conquistado à custa de muito sangue, se desmoronou em pequenas e grandes parcelas dando origem a uma história bem conhecida. O filme celebra algo que não diz grande coisa ao comum dos mortais de hoje, a não ser a título de caricatura ou de chacota alarve. Falo da "fraternidade viril", para usar a expressão do insuspeito André Malraux, ou da camaradagem de armas sempre presente na vida destes homens. Não deve constituir novidade para ninguém minimamente esclarecido a bissexualidade de Alexandre ou a dos imperadores romanos. Suetónio e Edward Gibbon, por exemplo, explicam isso. Alexandre foi educado por Aristóteles que, no filme, "recomenda" ao futuro rei e aos seus jovens colegas a virtude espiritual da "amizade viril". Ou seja, que delicadamente se deitem uns com os outros, preceito que Alexandre nunca deixou de seguir, mesmo depois de casado. Tinha um "favorito" e não desdenhava ainda os "favores" de algum pessoal "menor", como era da praxe. Terá morrido envenenado aos 33 anos, rodeado do mesmo amor-ódio que os seus mais próximos sempre lhe devotaram. Viveu bem, depressa, tinha ambição e bom gosto. Mesmo nas batalhas mais ferozes, foi glorioso e sensual. Finalmente, foi dos primeiros com uma visão planetária e cosmopolita da existência, mesmo quando traduzida na conquista violenta, sanguinária e imperial. Quando olhamos para os horríveis "imperadores" do nosso tempo, quem é que lhes consegue achar a mínima graça? A sério, quem?
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