23.7.03

TEATROS(actualizado)

1. Estreia no Teatro Rivoli do Porto Um Hamlet a Mais, uma encenação de Ricardo Pais, com cenários de António Lagarto. Vai lá estar uma semana. Sobre este trabalho, Pais fala abundantemente numa entrevista ao DN.

2. Porém, mão amiga deu-me cópia de uma entrevista do mesmo Pais ao jornal O Comércio do Porto, já com umas semanitas. Nesta entrevista, é também o director de um teatro nacional, o S. João, quem fala. Ricardo Pais é uma reprise nesta direcção, recuperado ao espólio Carrilho pelo actual Governo. Como tem imenso talento, é naturalmente vaidoso, permitindo-se dizer coisas tão extraordinárias como "este meu poder resulta da qualidade e eficácia das minhas criações enquanto encenador"! É, aliás e apesar desta sua imodéstia, o único director que verdadeiramente reconheço como tal no espectro actual dos teatros nacionais. No D. Maria, António Lagarto espera sinais da lei e da tutela, enquanto a Comissão de Gestão, amputada pela demissão de João Grosso, vai tratando como pode da intendência. No S. Carlos, meu mais conhecido, há, de facto, uma mesma pessoa que ocupa o lugar de director e de director artístico, e que, apesar do seu enorme talento para a duplicidade, não consegue manifestamente aguentar-se nos dois papéis.

3. O Secretário de Estado da Cultura entende que se deve separar a função de direcção geral do teatro da função de direcção artística. É uma opção política legítima e com a qual concordo. Percebo que Ricardo Pais diga que "o princípio de que um director geral é o director artístico, responsável máximo e encenador residente, e o princípio da impossibilidade de interferência da tutela na orientação artística e na gestão directa da casa, são religião para esta direcção". Pois é. Quando se convidou Ricardo Pais, era obrigatório saber-se que ele só "pedala a sua bicicleta" e que se prepara para "esticar a corda". Agora, que pretende alterar as leis orgânicas dos teatros nacionais- com apenas cerca de cinco anos de vigência -, o SEC vê-se confrontado com um drama de recorte hamletiano: afagar (designadamente) o ego de Ricardo Pais e de uma ou outra vaidade menor, ou seguir em frente com a "sua" política, sem temores reverenciais. Neste "ser ou não ser", convém que não haja lugar a hesitações.

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