21.7.03

DO CORPO EM FÉRIAS

Três blogues de Vergílio Ferreira (Conta Corrente, 1, Bertrand Editora)

Aquilo em que se tem mais vaidade é o corpo. Mesmo que aleijado, há sempre um pormenor que nos envaidece. Compô-lo. Arranjá-lo. O careca puxa o cabelo desde o cachaço ou do olho do cu para tapar a degradação. O marreco faz peito. O espelho é para nós o grande dialogante. Passa-se a uma vitrina e olha-se de soslaio a ver como se vai. Uma mulher perfeita (e um homem) não inveja o intelectual, o artista. O inverso é que é. Muitas mulheres (e homens) cultivam a excepcionalidade do seu espírito ou engenho por complexo ou vingança. Quando se não tem já vaidade no corpo, está-se no fim.

A sexualidade não é apenas um problema moral: é um problema fisiológico. Cumpra-se a fisiologia mas não se faça parlapatice com isso. Ou então falem também do cagar, do arrotar, do espeidorrar. Merda para o problema.

O pudor é um sentimento masculino. Quando uma mulher conhece outra, ao fim de dez minutos está já a explicar-lhe como é que o marido trabalha na cama. Ao fim de dez anos ou de uma vida, um homem não explica a outro como trabalha a mulher. É que o homem não é um novo-rico do sexo. Ou respeita a mulher por simples machismo?

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