18.7.09

DA LEVIANDADE


Só costumo discutir Joseph Ratzinger com quem já o leu. E em Portugal pouca gente o fez. O Henrique Raposo, munido do seu olhómetro "liberal", passou a vista pela última encíclica do Papa. Duas vezes, no Expresso. Respondeu-lhe o padre/poeta sistémico Tolentino Mendonça. Não leio Mendonça mas leio Raposo. Sucede que Raposo - que considero um soi disant liberal legível apesar de beber da "Espada& Cia. académica", esta, sim, de difícil trago - foi, como confessa, leviano. Diz ele (presumo que a sério o que torna o caso mais sério) que «não estava a analisar o Papa ; eu estava a gozar com o Papa», como se fosse o Alfredo Barroso ou o Daniel Oliveira, dois colegas dele, "liberais" de esquerda. E não, Henrique, não existe a menor confusão entre a Doutrina Social da Igreja e o esquerdismo marxista no que respeita à globalização. Como não és católico, não és obrigado a saber o que significa a caritas dos Evangelhos, das Cartas e das Encíclicas. Mas como és alfabetizado, tinhas obrigação de interpretar. Ora o Papa fala-nos da caritas in veritate nas relações económicas, sociais ou laborais, domésticas ou internacionais, financeiras ou outras. E parte da democracia, a nossa, a ocidental e cristã - vem lá na Encíclica - como "base" para desenvolver o seu pensamento acerca da globalização. Que eu saiba, Kim-Jong-Il, Chávez, ou mesmo Putin ou Hu Jintao, apesar de andarem com o credo do mercado na boca (outros "liberais") não só não são muito dados à "caritas na verdade" como não são propriamente uns adeptos da "nossa" democracia. A globalização de que fala o Papa é, por isso, inconfundível com a dos marxistas em exercício ou meramente teóricos. Depois o Papa não responde pelas diatribes de certos padres, mesmo que sejam cardeais. João Paulo II e Bento XVI são inequívocos sobre tonterias como, por exemplo, a "teologia da libertação". Defender a redistribuição da riqueza, a limitação da pobreza, sustentar a intervenção do Estado junto de uma falaciosa sociedade civil "empreendedora" que parasita o mesmo Estado e os contribuintes é estar com Louçã e Sousa Santos, Henrique? Por que não com Portas, o Paulo? Ou com o senhor engenheiro Van Zeller? Ou com esse monstro do "empreendedorismo" nacional que é o sr. Carrapatoso e o seu patético "compromisso" da mão estendida à complacência estatal? Não foi o Papa (e este, muito especialmente) que não deixou entrar a realidade na sua cabeça. És tu, Henrique, e muitos liberalóides ratitos de biblioteca quem, muitas vezes, detém a realidade à porta da "teoria". Mais de dois mil anos de "terreno" é uma patine insubstituível. E como ensina Ratzinger, há tantos caminhos para Deus quanto há homens. Mesmo levianos como tu.

11 comentários:

Anónimo disse...

Já nao é mau que se fale da Encíclica. Mas parece que passou despercebido um outro novo documento do Vaticano de grande importância e alcance:
"Em busca de uma ética universal: novo olhar sobre a lei natural", da Comissao Teológica Internacional, órgao da Congregacao para a Doutrina da Fé.

Disponível em italiano e francês: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_index_po.htm

O Papa já há algum tempo vinha chamando a atencao para a centralidade da temática tratada neste texto agora publicado.

www.angeloochoa.net disse...

Sobre certos «intelectuais» que tudo gozam e nada sabem agorinha mesmo
in
http://joshuaquim7.blogspot.com/2009/07/flacidos-intelectuais-efeminados.html
comentário subsequente postei:

«Gente fina é outra coisa... muito camaradas... seus... muito fraters... dos seus... muito maninhos esquerdinhos... dos seus... o pão «nosso» venha a «nós» dizem eles todos amigos... deles!
Mais proclamam:
Primeiro nós, depois nós, e depois nós...
Sobre os «outros...» há que pôr pedra... em cima!»

yodleri disse...

Eu gostaria de poder a frase "És tu, Henrique, e muitos liberalóides ratitos de biblioteca quem, muitas vezes, detém a realidade à porta da "teoria"." no meu blogue, indicando, obviamente, onde a fui buscar. Se me desse autorização... agradecia.
Eu sou, porém, um bloguista de nível muito inferior.

radical livre disse...

não é necessário ser crnte para conhecer o valor exacto da palavra caritas para os católicos.

hoje mais que nunca está em jogo o que dizia Juvenal numa das suas Sátiras
«bona summa putes aliena vivere quadra»
ou «julgam que o supremo bem é viver do pão alheio»

estas situações conduziram
o mundo à paupertas

Quinto Túlio Cicero
dizia em commentariolum petitionis
«tudo é fraude, insídias e traição»

portugal está cada vez mais na mão dos palermas

Anónimo disse...

Este seu texto mereceria comentários apropriados, cuidados, empenhados.
Desculpe-me usar um comentário prosaico neste seu espaço tão perfeito.
Mas costumo discutir a vida com quem aparece para o fazer:
Católico ou não, alfabetizado ou não, com literacia ou não.
Desde que viva, tanto se me dá o que professe. Quase não falo com mortos, aliás.

Não atinjo os calcanhares dos ilustres contemporâneos, empreendedores, políticos e pensadores que refere.
Assim, não tento, sequer, citá-los. Mas ao Papa actual e aos anteriores?
Com os tais 2009 anos de ‘terreno’, a sua tolerância tem acumulado uma patine controversa.
Aos papas, pensar-se-ia que qualquer um pudesse lançar um apelo, ou até um desagravo.
Mas nada disso acontece – são sublimes, sábios, infalíveis, distantes.
Os seus súbditos são pecadores, a sua corte orquestrada.
Tão esmagadora como a dos outros ‘poderes soberanos’ – incompatível com a ‘vida nua’ dos não iniciados.

A ‘Caritas na verdade’ dos evangelhos e doutros textos cristãos?
Será assim tão diferente doutras tentativas de viver em harmonia com o tempo, o espaço e as criaturas?
Tão diferente da compaixão universal doutros credos? Não o creio.
Porque se baseia na transcendência e na revelação, conceitos que não são universais.

A ‘nossa’ democracia? A deles? A falta dela?
São muitos milhares de anos de experiências. Ainda não acabou o tempo.

Claro que concordamos num item: impedir os parasitas de proliferar.
Mas é difícil, quase impossível consegui-lo.
Gostaria de não ter usado de leviandade.
E continuarei a lê-lo atentamente.
MJR

Amado Estriga disse...

"Como não és católico, não és obrigado a saber o que significa a caritas dos Evangelhos,das Cartas e das Encíclicas"
...
Deduzo pois que, aquele que o é - católico! - lhe conhece o significado!
Pois eu duvido e muito, João! Se perguntarmos a 20 católicos que definam "caritas" no sentido em que você propõe obterá, provávelmente 20 respostas diferentes e todas elas erradas. Por uma razão muito simples! A caritas na perspectiva católica, assenta a sua própria razão de ser em contrapartidas que não se pedem a ninguém! A Fé e a Esperança. Coisas que a própria Igreja se encarregou de ir destruindo ao longo dos séculos. Ofereço-te a minha caritas em troco da tua fé e da tua esperança!!...
O verdadeiro sentido latino de caritas é unidireccional.O amor e a entrega, para que realmente o sejam, não pedem nada em troca.
Abraço
Amado

Anónimo disse...

João:

Dou-te vários conselhos: vai á missa e come muitas hóstias e não te esqueças de rezar o terço todos os dias. É melhor do que falar do que não sabes. A diferença entre o comunismo e o catolicismo é que os comunistas não acreditam em deus!

Abr

Anónimo disse...

Sou um indefectível leitor seu, e, de uma maneira geral, concordo com com a maior parte do que escreve no seu espaço. Estamos quase sempre em consonância. Mas, esta coisa da religião é que o vai perder, mais cedo ou mais tarde...
Como é possível alguém esclarecido, como o João, perder tempo com uma fraude com 2009 anos?
Não, não sou de esquerda, sou de direita, mas, não posso compreender este seu apego a esta linha de pensamento. Muito menos tentar limpar a imagem dum vigarista, chamado Ratzinger, ex-administrador do Banco do Vaticano, e, como qualquer personagem dessa seita, talvez das pessoas menos bem formadas que conheço dentro desse sinistro âmbito. Não, também não sou maçom.
Considero-me um homem livre. E, talvez por isso mesmo, não valho nada. Porque não estou agregado a NADA. Apenas a mim próprio e às minhas pequenas ideias. Mesmo assim, considero-o de leitura obrigatória. Todos os dias. Para mim, pelo menos.

João Pedro Neto disse...

Muito bom!

asinus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
asinus disse...

http://ruadopatrocinio.wordpress.com/2009/07/09/soliloquio/