17.9.08

O ARGUMENTO DA HONRA

A propósito de Eanes, pressenti em alguma blogosfera o antigo ódio - acéfalo e caciqueiro mesmo quando disfarçado de "intelectual" - ao General. Eanes, apesar de ter sido o primeiro Chefe de Estado eleito por sufrágio directo, universo e secreto, nunca foi bem aceite pelos "democratas" da partidarite. Soares, o "dono" moral desses "democratas", fermentou o referido ódio que ainda agora ressuma nas entrelinhas do que escrevem. Tal como Cavaco, Eanes, na "lógica" destes "democratas", não é - felizmente, digo eu - dos "deles". Porque estão habituados ao regime (e à falta de vergonha que é costume estar-lhe associada: por exemplo, para a semana Chávez regressa a Portugal para "negociar" com os "pais espirituais" destes "democratas"), estranham que Eanes tivesse recusado os "retroactivos" da pensão e lançam-lhe o estigma da "acumulação". É que para estes "democratas", existem "democratas" de primeira e de segunda classe. Soares e Sampaio estão, seguramente, na primeira classe. Eanes, quando muito, fica pela segunda porque eles, os "democratas", apesar de tudo são generosos. Eanes não foi exactamente um contínuo do regime nem mais um dos seus vulgares papagaios pagos a preço de ouro para "comentar", nos jornais e nas televisões, o mesmo regime que os apascenta. Nunca, aliás, pagaremos (e não falo de dinheiro que é a lingua franca do regime e dos seus papagaios) devidamente a esse homem a sua coragem física e moral em tempos sombrios. Como escreve o Baptista-Bastos, «num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de gestores atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulha aqueles que ainda acreditam no argumento da honra.»

11 comentários:

Fernando Antolin disse...

Honra:uns têem,outros...não.

Anónimo disse...

Muito perigoso, o Sr. General Eanes.
Olha se as pessoas desatarem a fazer comparações e começarem a exigir das elites políticas mais do que a habitual lábia de "vendedores da banha da cobra"?

Anónimo disse...

Para o "sistema" as avaliações desses parâmetros, como honra, seriedade, honestidade, rectidão e outros que tais, a fasquia deve colocar-se rasteira. O General Eanes, ao colocar a sua alta, incomodou muita gente que, do orçamento, apanha o que pode, evidenciando uma ganância afrontosa, como refere e bem Batista-Bastos.

Ljubljana disse...

Existem outros que embora não tão sonantes, também honram os que os elegem. O caso de Bagão Félix, que tanto quanto sei, renunciou à pornográfica reforma a que tinha direito pelo período de trabalho no Banco de Portugal.

Carlos disse...

É um homem digno de respeito e admiração. Eu nasci em 1976 e cresci numa casa onde o homem era admirado e respeitado, tal como salienta, pela sua coragem física e moral. Ainda hoje o meu pai, que há anos não exerce o direito de voto, diz que só voltaria às urnas para votar em Eanes.

Anónimo disse...

João Gonçalves: quem são esses senhores que falam do estigma da acumulação? Gostava de saber.

Anónimo disse...

Para tudo e, principalmente, nestas questões o necessário +e «sensibilidade e bom senso».

fado alexandrino. disse...

Fiquei de boca aberta quando hoje de manhã li o DN.
Sinceramente vindo de quem veio, para mim foi um espanto.

Sobre Eanes.
Uma das maiores fotografias que há do PREC é sem dúvida a sua entrada julgo que Évora no tejadilho de um carro.

Anónimo disse...

Nunca tive, devo confessá-lo, grande simpatia por Ramalho Eanes.Por causa da merda do socialismo? Talvez, mas não o posso afirmar.
No entanto, a decisão que tomou relativamente aos retroactivos da sua reforma, se atenuou a minha antipatia, merece a minha censura.
Devia ter recebido o montante a que tinha direito e, se não o queria para si, distribuia-o da forma que melhor entendesse. Deixá-lo nas mãos da corja reles que lhe dará um péssimo destino é, opara mim, um erro.
Muito se fala neste país de reformas obscenas.
Julgo que será de estabelecer princípios severos que regulamentem eficazmente as reformas.
Todas as reformas devem obedecer a um princípio único, estabelecidas numa única entidade. As reformas teriam um limite máximo que não poderia ser ultrapassado,
fosse qual fosse o pretexto.
Quem quisesse ter uma reforma superior teria de a preparar enquanto trabalhasse.
O critério para a fixação da reforma seria sempre o mesmo para as diferentes actividades profissionais. Não haveria critérios diferentes para o Banco de Portugal e outras empresas ou organismos públicos, militares, polícias, etc., etc.
E quem já tivesse uma reforma no limite máximo ficaria impedido de acumular outra.

Bmonteiro disse...

Um pouco de humor.
De um coronel que tenho como não demasiado concordante com o general Eanes:
(depois de lhe ter enviado o mail do JG)
Agradeço a informação!
Acho que o Gen Ramalho Eanes deveria ter recebido os retroactivos da sua reforma e depois presenteava o Governo com essa importância, para redução do défice...
E se fosse para a Fundação Mário Soraes?
Issékera um canelada...

Anónimo disse...

O "argumento da honra" de Baptista Bastos! Veja-se a recente notícia sobre a casa camarária que pediu e lhe foi atribuída em 1994, ano em que comprou outra casa em Constância. E ainda vem falar de ética republicanae elogiar o Eanes por ter recusado uma acumulação de reformnas? O patife tem lata, mas descubriram-lhe a careca...