12.1.07

SEJAMOS CLAROS - 7

"O reconhecimento da dignidade constitucional da vida intra‑uterina (comum, aliás, à generalidade das pronúncias de diversos Tribunais Constitucionais da nossa área civi­lizacional) – que é independente de concepções filosóficas ou religiosas sobre o início da vida humana – não impede, como é óbvio, a admissão de que a sua tutela seja menos forte do que a da vida das pessoas humanas (desde sempre revelada na diferenciação das penas aplicáveis aos crimes de aborto e de homicídio) e que possa conhecer gradações consoante a fase de desenvolvimento do feto, designadamente em sede de ponderação da solução do conflito entre esse valor e outros valores igualmente dignos de protecção constitucional, relacionados com a mulher grávida. O que se me afigura constitucionalmente inadmissível, por incompatível com o reconhecido dever do Estado de tutelar a vida intra‑uterina – com consequente postergação da concepção primária do feto como uma víscera da mulher, sobre a qual esta deteria total liber­dade de disposição – é admitir que, embora na fase inicial de desenvolvimento do feto, se adopte solução legal que represente a sua total desprotecção, com absoluta prevalência da “liberdade de opção” da mulher grávida, sem que o Estado faça o mínimo esforço no sentido da salvaguarda da vida do feto, antes adoptando uma posição de neutral indiferença ou, pior ainda, de activa promoção da destruição dessa vida. "

Mário Torres, idem

6 comentários:

Anónimo disse...

Estamos perante um desafio civilizacional.Dizer sim á vida não está na moda. Mas poderemos ter outra opção?
Coragem João.Crime não é só o que está tipificado na Lei é também e sobretudo aquilo que mais repugna ao ser humano.

Anónimo disse...

Há coisas que me repugnam (por exemplo no vosso discurso) que então deveriam passar a ser consideradas crime? Esclareçam-me.

Anónimo disse...

Sr. Goncalves,

Soltou o Jurista que há si ???

:-)

Abracos e bom fds

Anónimo disse...

...e por que é que não se PREOCUPAM MAIS em legislar e CUMPRIR a favor dos direitos das crianças que morrem de fome, de maus tratos, vítimas destes Senhores que tanto apregoam a VIDA HUMANA???

Anónimo disse...

Sobre o aborto, José Pacheco Pereira, no ABRUPTO, mais claro é impossível:

"O caso do aborto é típico. Ao resistir à introdução de legislação que permite a interrupção voluntária da gravidez em nome de uma cultura da “vida” face à “morte”, a Igreja não muda a minha opinião (o meu “sim”) mas obriga-me pela sua resistência e pelos seus argumentos, com relevo para os que traduzem posições éticas, a discutir a “vida” e aquilo que se tem nomeado como a “cultura da morte”, o que eu posso – e devo – fazer num contexto laico. E posso e devo fazê-lo, porque há valores envolvidos na decisão de abortar que transcendem os argumentos correntes a favor do "sim" e levantam dilemas morais genuínos . Do mesmo modo se espera que os defensores do "não" considerem existir outro tipo de dilemas morais tão genuínos como os suscitados pela questão da "vida". Uma gravidez não desejada, - e pode ser não desejada por inúmeros motivos - , é também profundamente perturbadora (pode também "matar" em vida) e suscita questões morais que não são menores do que aquelas que se levantam à volta da "vida". Reconhecer uma idêntica valoração moral quer aos motivos da decisão do "sim" quer do "não", é o único ponto de partida para um debate sério e não relativista."

Anónimo disse...

Quanto vale uma vida?
Ó João ainda não te percebi. Defendes a manutenção da actual Lei. Presumo que não por convicção, mas porque consideras ser um mal menor. De outra forma, não entendo como resolverias a seginte equação: Entre uma grávida que corre risco de vida e um feto, quem deve a Lei defender?
A mãe? O feto? Que vontade prevalece?
Quem decide?
Não és de opinião que uma mãe que já viveu alguns bons (em termos relativos face ao feto) anos deve ter a nobreza de dar a vida por um filho?
Neste caso, o aborto não te choca? E nos restantes casos, por exemplo, de uma gravidez não desejada?
Qual a diferença quanto ao efeito? A vida da mãe é mais importante que a do feto?
Abracinhos,

HJP