20.1.07

UM "SIM RESPEITÁVEL"

Desenvolveu-se ultimamente a fantástica ideia de um "sim responsável" o que, no limite, pressupõe que existe um "sim irresponsável". Eu, que não faço parte nem de um, nem do outro, preferia um "sim respeitável". Para isso, era preciso que a pergunta do referendo fosse outra, que o SNS funcionasse em condições e que não se confundisse despenalização com liberalização. Todavia, já não há tempo para grandes "filosofias". As coisas são o que são.

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro senhor

O que é que Vexa acha de vantajoso em o "Não" ganhar e termos as clínicas espanholas a fazer, no dia seguinte, em Lisboa, o que os médicos portugueses recusam fazer no público mas fazem às escondidas no privado?
Que invocados princípios morais, éticos, teológicos, jurídicos, científicos (ou para o que estes interessam, desportivos!) resistem ao confronto com esta crueza da realidade? O senhor quererá invocar como outros que pelo mesmo caminho despenalizariamos o assassínio?

Meu caro senhor, atrevo-me a aventar que Vexa não esteve na guerra. Mas aceite a palavra de quem viu vários homens, mulheres e crianças morrerem à distância de um braço estendido.
Em situações extremas aprende-se o significado da vida, quando se exige um esforço sobre-humano para a salvar, por vezes pondo em grave risco a nossa própria.
Aprende-se aí também a responsabilidade de decidir quem se salva e quem se condena. E aprende-se o incómodo de fazer o papel que só um deus estaria capacitado para desempenhar.
Mas é justamente por a vida ter tanto valor que não me posso arrogar o direito de chamar vida ao embrião incipiente.

Alguém se lembrou no outro dia de defender que se uma lei permitir deixar herança a um ser que resulte do desenvolvimento de um feto ninguém poderá negar a esse feto o direito à vida. Para mim isto faz tanto sentido como afirmar que o direito de um animal de estimação à vida passará a ser protegido caso a lei permita legar-lhe em herança uma habitação (para não ser mais absurdo referindo uma avultada soma em dinheiro). Os argumentos e contraditos jurídicos invadem as discussões de mesa de café mas o charuto apaga-se, o chá arrefece ... e cada um volta à sua vida sem nada lhe acrescentar. Não é neste âmbito que o problema tem solução.

Alguém já assumiu doutrinas antigas, e hoje ultrapassadas, sobre a Biologia da vida (e para o que interessa porque não a das paixões?) tentando resolver o problema de "uma vez por todas": há vida, há crime! Quantas certezas têm essas pessoas, que a sua própria vida lhes deve pesar mais do que se consegue suportar. Ceifar a vida da infeliz formiga ou do bife ambulante que rumina nos prados, seres completos e autónomos criados por um bom Deus, enche-os porém menos de angústia, dado que eles não são possuídores de alma. Quem acredita na alma certamente não a discute — já Wittgenstein dizia da inutilidade de usar as palavras para afrontar tal problema. Para quem acredita, a linha de conduta é ditada por um código que não foi elaborado por homens. Respeito, embora não partilhe das mesmas convicções. Penso até que quem tem tais certezas não deveria invocar outra ordem de argumentos, pois isso poderia ser interpretado como sintoma de fraqueza da crença.

A vida é mais propriamente, na minha experiência, um momento. Um momento em que se decide sim ou não. Um referendo perpétuo em que cada homem se entrelaça com os outros. É o momento em que nos tornamos responsáveis pelo outro. O caso extremo, o de abdicar da nossa para que vingue a do outro, é concerteza a maior dádiva que alguém pode fazer. Mas nem sempre há um pequeno herói disponível para tomar a seu cargo uma grande responsabilidade.
Assim sendo é melhor que não sejamos hipócritas.

José António Fanoff Rodrigues (apoiante do SIM)

José Gomes André disse...

Essa do "sim responsável" é de génio. Aliás, toda a recente estratégia do "sim" tem sido brilhante... "A questão não é sobre o aborto... somos todos contra o aborto!". "A questão não é sobre o começo da vida". "A questão não é ética, nem religiosa". A continuar este esvaziamento, um dia destes os eleitores perguntam-se se os boletins vêm em branco...

Bem Pelo Contrário

Anónimo disse...

peço desculpa por comentar. mas concordo inteiramente consigo. os apoiantes do "sim" esquecem-se que todos já fomos "embriões incipientes". bom dia e obrigada.