19.1.07

DA CAPOEIRA

O dr. José António Pinto Ribeiro, eminente jurista que provoca honestos delíquios e vastos suspiros junto de algumas "intelectuais" da nossa pequenina praça (deve ser da melena blasé) , homem da "esquerda caviar" degustada com champanhe, saiu-se com esta pérola de refinado bom gosto: "um ovo não é igual a um pinto, um ovo não tem os mesmos direitos do que um frango." A eminência preside ao Fórum Justiça e Liberdade e proferiu a sentença numa sessão organizada pelo Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim. A Marta Rebelo, que estava ao lado dele, terá achado esta sublime imagem dignificante para os seres humanos - mulheres, homens e crianças - que o Movimento que integra alegadamente defende? Não haverá ninguém no Movimento que lhe esmague um ovo na melena para ele perceber a diferença?

3 comentários:

Antonio Dias da Silva disse...

Caro João Gonçalves,

O Portugal dos Pequeninos já há muito se tornou visita quotidiana. Discordo muitas vezes, mas apenas uma vez fiquei decepcionado com um post, por extremamente injusto que me pareceu. Esse foi a propósito da expulsão de famílias Portuguesas do Canadá, que eu tinha lido antes no Publico terem caído numa armadilha administrativa, no meio das mudanças de partido e orientações políticas naquele pais. À parte disso, aprendo e divirto-me ao lê-lo. Discordamos quanto à orientação de voto no referendo à questão do aborto, mas concordamos que, com estes partidários do sim, o não, não precisa de campanha. O nível de debate mostra o tão “pequeninos” que somos. É pena!

Eu voto sim por uma questão de fé: por acreditar que a despenalização é o primeiro passo para a diminuição do aborto; por acreditar que a decisão de aborta é das experiências mais traumatizantes para um casal, e em particular para a mulher; por fazer do aborto um tema social; por este ser mais um passo importante na educação geral dos portugueses; por acreditar que não estamos a legitimar nada, mas que avançamos como ser humanos; por acreditar que, como sociedade democrata, devemos dar a todos as condições necessárias a realização do acto.

Nunca estive envolvido numa situação tão delicada como estar a favor ou contra a decisão de abortar de uma companheira. Espero nunca estar. Pelos meus valores éticos e morais, afirmo, convictamente, que a tentaria dissuadir; mas quem sabe as circunstancias que a vida nos obriga a viver! Seria eu o primeiro a sugeri-lo? Deus me livre! Gostava de viver numa sociedade em que as pessoas, no seu íntimo, tivessem a liberdade e as condições para decidir.

Cumprimentos e parabéns pelo blog,
António

Anónimo disse...

A vida é incontornável.
Dez milhões de «sim's» não viriam a provar nunca a diminuição da prática do aborto. Exactamente como dez milhões de «não's» também não o provariam. A despenalização é «consubstancial» da liberalização, e às seis semanas (um mês antes do que esta lei propõe em referendo) bate um coração humano. Essa é que é essa, e é não.

Anónimo disse...

Tenho duas filhas. Vi em certo tempo as ecografias, então possíveis. Não esperava nada que da fecundação saísse dali um elefante, uma flor de estufa ou um girino. Salvo alguma anomalia (castigo divino?), sairiam sempre seres humanos. Desde a concepção. Eu não concebo outra coisa: a fecundação humana só produz seres humanos a partir das duas primeiras células (masculina e feminina). Repito, não concebo como podem/querem contornar isto.
Embora admita que, ao contrário de espécies em risco, há espécies raras que proliferam por aí.