5.8.07

O TEMPO E AS ALMAS


Não sei quantos directores de museus públicos vieram "demarcar-se" - com as calças na mão e a cauda a abanar em direcção à Ajuda - de Dalila Rodrigues, a demitida directora do Museu de Arte Antiga. Faz lembrar uma "história" contada nas "memórias" de José Hermano Saraiva, passada com António José Saraiva e Jacinto do Prado Coelho, no outro regime, com outra gente, mas em semelhante registo atento, venerando e obrigado. "Padrinho do filho, licença pedida para o poder tratar por tu, admiração imensa - e aqueles dois artigos no jornal a denunciar o António como comunista. Os pseudo-críticos, foi o título que deu a essas denúncias torpes. Ambos visavam o provimento numa única vaga na Faculdade. No clima do tempo, era evidente que um candidato publicamente denunciado como comunista não obteria a chancela da PIDE, o nihil obstat inevitável para se ser admitido a concurso. O resultado foi esse mesmo. É nesse momento que se desencadeia a perseguição policial que destruiu a vida privada do António."

7 comentários:

Anónimo disse...

Essa bonita acção não conhecia eu. Só demonstra que debaixo de muito dr. ou dra. de alta craveira intelectual, há muito caruncho...

Anónimo disse...

Não sei se a senhora é competente, apenas noto que ela é muito gira e está na fotografia com uma expressão que seduz qualquer homem. Não me importava de ser demitido também, se isso fosse necessário para obter os seus favores.

Anónimo disse...

Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.



Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.»




Marguerite Yourcenar
“O tempo esse grande escultor”
trad. helena vaz da silva

... vai ser esta a glória de Dalila Rodigues: ter partido no tempo certo.

Anónimo disse...

Esta senhora deu há dois meses uma entrevista à revista Atlântico.
Suficientemente elucidativa, para permitir concluir da sua elevada categoria.
Da SIC de há dias, vista e referida pela minha mulher, pode concluir-se sobre a senhora: fala direito, logo, capaz de ser perigosa ou inconveniente (a minha mulher tambem costuma ter esse defeito, que tenho por hábito admirar).
Quanto ás sumidades que nos governam, ou que se governam connosco, não devem ter lido nada sobre gestão participativa por objectivos. saber pouco de psicologia, para perceberem melhor a resposta dos restantes directores.
Afinal, 33 anos depois, parece terem incorporado alguns dos defeitos do antigamente. Qq dia, há-de surgir uma declaração semelhante à que os futuros funcionários públicos assinavam na tomada de posse, antes de 25Abr74
Quanto aos directores do «pronunciamento», aproveitado pelos apoiantes oficiosos deste governo (Vital Moreira, por ex), revelam a verdadeira natureza dos directores estabelecidos: «a reacção» que assustava tanta gente durante o PREC de 74/75.
Quanto aos dirigentes de topo, revelam uma educação relativamente rasca, como a manifesata há tempos com o S. Carlos.

Unknown disse...

Havia já muito tempo que por cá não passava. Noto com agrado que a lucidez permanece activa.
Agora vou continuara a ler.
Cumprimentos:

Anónimo disse...

Então no regime do seu idolatrado Salazar também havia pulhadas destas? Não me diga... Destas e doutras, como aquela que vem nas memórias do Prof. Saraiva acerca do cônsul que salvou uns milhares da morte em campo de concentração? Que invenção rasca!
Lindos regimes estes da República à portuguesa...

Anónimo disse...

Meu caro João: você um admirador do Vasco P. Valente como eu e não subscreve aquilo que ele escreveu na passada sexta-feira? Faço minhas as suas palavras: "Dalila Rodrigues por muito que lhe custe, está obrigada à obediência e não é admissível que vá para os jornais censurar a ministra. Não lhe compete definir a política do ministério; e a administração pública não se tornou ainda numa istituição democrática." Esgotadas as possibilidades de ver satisfeitas as suas exigências pelas vias hierárquicas, a única atitude possível era demitir-se e declarar aos jornais as razões da sua demissão. Até considero que tem razão em muitas das coisas que defende. Falei com ela sobre isso. Agora, ser Directora do MNAA e criticar o ministério de quem depende hierarquicamente parece-me que são duas situações incompatíveis. Você mesmo não se demitiu do São Carlos quando discordou da política da tutela para o teatro? Haja coerência, mesmo que isso acarrete o fim de alumas mordomias!
gattopardo