Prosseguem, no Sol, as "memórias" de José Hermano Saraiva. No fascículo desta semana vem o desaparecimento, em Março de 1993, do irmão António que marcou gerações de portugueses interessados minimamente nesta treta. Mas também lá vêm as habituais picardias decorrentes do - graças a Deus - espírito petulante do autor. Sobre um assessor presidencial de Mário Soares, Saraiva escreve o seguinte: "Respondi, portanto, ao tal senhor do telefone, que um pedido presidencial é um assunto sério e não se trata pelo telefone. Devia, pois, enviar o convite escrito, preto no branco, e depois se veria. Aí o dialogante identificou-se: era o eng.º José Manuel dos Santos, nós até já nos conhecíamos de qualquer parte, etc. Confirmava-se a minha desconfiança: em Portugal toda a gente pode chamar-se José Manuel dos Santos.". Mais adiante, e a propósito das gentes que frequentam as escolas secundárias, Saraiva dá-nos um retrato muito fidedigno e actual: "Penso que ainda são bípedes mas já não são racionais. A percentagem de jovens deste tipo, que já nem sabe falar e vive numa penumbra instintiva, que não consegue atingir o patamar da consciência plena e responsável, é cada vez maior". Finalmente, e agora do irmão António, por ele citado, acerca de licenciaturas - um assunto tão depressa dentro como fora da "ordem do dia" -, esta reflexão: "Por este caminho, acabamos por anexar a certidão de licenciatura ao registo de nascimento. Nascem todos srs. drs., e não se fala mais nisso." Aprende-se muito com os velhinhos.
1 comentário:
Recomendo vivamente estas memórias do JHSaraiva. Raramente um homem é tão coerente e igual a si próprio: escreve como fala e raras são as fotos em que não está ao centro. A sua vaidade é incomensurável mas, pelo meio,lá vai dizendo algumas verdades incómodas. Um testemunho a não perder.
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