Acabei de ler um livro curioso e oportuno. Chama-se " A queda de Roma e o fim da civilização" (Alêtheia Editores, com uma tradução assim-assim) e é escrito, não por um "historiador", mas por um arqueólogo, Bryan Ward-Perkins, nado e criado em Roma. À tradicional tese da dissolução do império romano ocidental, Ward-Perkins contrapôe umas "vistas" diferentes. Opõe a ideia de complexidade, de "conforto" e de sofisticação inerentes ao poderio romano - desde a aristocracia ao "povo", evidenciados em coisas como a construção de casas, a cerâmica ou a escrita- àquilo que lhe sucedeu com a dissiminação de pequenos-grandes reinos "bárbaros" um pouco por todo o lado. "Os romanos, antes da queda, estavam tão certos como nós estamos hoje de que o seu mundo continuaria para sempre substancialmente inalterado. Estavam errados. Seria sensato não repetirmos a sua complacência", escreve Ward-Perkins. O livrinho tenta explicar como é que uma sociedade complexa - aquela que era, ao tempo, a civilização ocidental- pôde agonizar da maneira como agonizou, sobrando apenas e quase só pedras, regredindo a um patamar absolutamente primitivo de que levou centenas e centenas de anos a recuperar. Lembrei-me disto por causa do que se está a passar nos aeroportos ingleses. Convinha meditar na frase que citei acima. Aparentemente a actual "civilização ocidental" confia demasiado em si própria porque, como os romanos, se sente - e é, apesar do reaccionarismo do argumento que não deixará de me ser apontado pelos "guardas da revolução" - complexa, sofisticada, paradoxal e superior. Não troco nenhum autor "ocidental", mesmo o mais medíocre, pelo que os barbudos hirsutos do Afeganistão, do Irão ou do Líbano "vendem" nas suas inqualificáveis "madrassas". E, note-se, sou curioso e cosmopolita. Todavia, tento, no essencial, não ser complacente.
1 comentário:
« Não troco nenhum autor "ocidental", mesmo o mais medíocre, pelo que os barbudos hirsutos do Afeganistão, do Irão ou do Líbano "vendem" nas suas inqualificáveis "madrassas". E, note-se, sou curioso e cosmopolita». Pessoalmente não leio radicais islâmicos, mas depois de ler este texto fico com sérias dúvidas em relação à sua curiosidade e ao seu cosmopolitismo.
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