20.8.06

TELENOVELAS



O Jorge Ferreira desafia-me a dizer das telenovelas "Morangos com açúcar" e "Floribella" tão ou mais "mal" do que disse do "mundial" nas televisões. Já percebi que, quer a TVI, para a primeira, quer a SIC, para a segunda, não se poupam, nem nas horas infinitas de transmissão, nem nos horários. Sobre os "Morangos" - que constituem o maior "pastelão" da TVI desde há não sei quantos anos - já várias vezes me pronunciei. É um "retrato" da adolescência light - haverá outra? -, com diálogos primitivos, "amores" previsíveis e "enredos" idiotas, tudo na transição entre o "secundário", a universidade ou o nada. O casting espreme-se por arranjar meninos e meninas com umas carinhas larocas e os meninos e as meninas espremem-se para aparecer na telenovela. Pelo meio houve um drama - a morte "real" de um dos actores - que infelizmente foi explorado até à exaustão. Ainda o mês passado, estando de férias no Algarve, quando liguei a televisão manhã cedo, lá estava a repetição de uma série anterior dos "Morangos" com o morto. Da "Floribella" nada posso dizer, mas imagino que a "ideia" - se é que aqui há lugar a ideias - é "concorrer" com a outra, com a publicidade inerente promovida pelo grupo Balsemão. Dá resultado. O filho da minha empregada, com quatro anos, sabe as músicas de cor e identifica uma a uma as personagens nuns gigantescos "suplementos" coloridos que o Expresso oferece aos sábados. "Morangos com açúcar" e "Floribella" cumprem - não interessa se mediocremente ou não - a sua função de entretenimento. Como lhes compete, são frívolas e esquecíveis, como o é o quotidiano dos putativos espectadores. Quem as vê, revê-se naquilo porque aquilo limita-se ao que as imagens contam. Não exige pensamento, não compromete e até tem pretensões "pedagógicas", como, no caso dos "Morangos", "ensinar" o sexo seguro, a grande mitomania dos tempos correntes. E a intriga é sempre acessível a qualquer analfabeto. As televisões generalistas lá fora, quer na Europa, quer nos EUA, não são, nesta matéria, exemplo que se recomende. Produtos deste género fazem parte do livre arbítrio da democracia. Quem quer, vê, quem não quer, desliga. Todavia não confundo as coisas. A bola, seja na forma de campeonato ou de "liga", invade outro território que é o da informação. Os telejornais transformaram a bola numa telenovela e, no caso do "mundial", chegámos a ter a telenovela durante quase 24 horas quando ocorria um jogo "importante". Aliás, a RTP, "serviço público", que não tinha acesso aos jogos, não se poupou nessa patriótica missão. A diferença é que as telenovelas, por mais básicas que sejam, não pretendem salvar a pátria. Quando muito, podem aliviá-la momentaneamente e distraí-la. Com a bola, como o Jorge sabe, já não é bem assim. Confunde-se com a política e, através dela, faz-se política. Cada vez que a selecção solta um murmúrio ou mete um golo, a pátria sente-se redimida. Mesmo ficando tudo na mesma - como fica - não há instituição do Estado que não se entregue às pernas salvívicas dos jogadores. Ainda a "liga" não começou, e já não se pode ouvir o "sr. presidente". Tudo serve de pretexto para minutos infinitos nos telejornais, desde o autocarro do sr. Pinto da Costa até às azias do sr. Vieira. Presumo que o sr. Hermínio Loureiro, ilustre deputado da nação e que foi secretário de Estado dos Desportos do dr. Barroso, não quis ir para presidente da "liga" só para passar o tempo, ou o bastonário da Ordem dos Advogados para presidente da assembleia geral do Sporting, por não ter mais nada que fazer. O futebol cumpre fielmente uma função política e a função política não dispensa o futebol. O resto - as telenovelas, o macaco Adriano, o "noddy" e outros que tais -, para já, ainda não atrai a política. Só o sr. Avelino Torres, por acaso um subproduto circense da política e do futebol, é que se sentiu "atraído". E vejam só como acabou.

14 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post. Sou levado a concordar consigo, no entanto uma dúvida se levanta. O filho da sua empregada sabe as músicas de cor. Este é um retrato da adolescência..., Porquê. É isto que me preocupa não o facto de este lixo passar. Não há alternativas a quem tem de ver televisão ou a quem tem por função educar. Não se lhes dá alternativa. Não há escolha. Quem não souber inglês e seja forçado a ver televisão está condenado a não ter escolha. Ou então faz como uma adolescente que conheço que diz que os morangos são tão fora da realidade da adolescência que ela conhece que se diverte a ver até onde vai a incongruência. O pior é quando a adolescência começar a copiar aquilo. E a pensar que os professores é que são bons e dão bons conselhos porque os pais em casa não querem saber deles. Esta é uma das mensagens dos morangos!

joshua disse...

Não aquece nem arrefece. As modas são passageiras, as caras larocas logo se tornam adultas e foleiras.

A popularuchidade é um merchandizing com tempo de validade.

A glória da fama são dez minutos na sanita, mas pagos e bem pagos.

Anónimo disse...

só digo isto:ou os senhores da televisao acham-nos a todos uns parvinhos que podemos levar com qualquer programazeco sem conteúdo nem proveito ou o "zé povinho" de facto é pouco interessante e mt displicente e gosta de levar com aquela injecção toda..cerca de 7h por dia entre floribella e morangos..verdade seja diot,cm qq um já espreitei ambas e esporadicamente já vi um ou outro episódio,não o nego..mas por favor,estou de férias e se quiser ver um canal generalista as opções de programação são deploráveis..

Anónimo disse...

e continuando..tb achei completamente absurdo e de um grau de morbidez extremo a exploração até a última da morte dakele jovem actor,por favor..ao menos tem de haver respeito pela dignidade humana e por a pessoa que já faleceu..qt ao futebol..sou daquelas que adora ver jogos da seleccçao e do meu clube do coração mas o que as tvs fizeram no Mundial já irritava um santo..

Anónimo disse...

e por mais que adore futebol,acho inadmissivel que um telejornal se centre quase exclusivamente num acontecimento desportivo,não só pq é dado um grau de importância desfasado daquele que realmente tem,cm tal atenção não é dada a outrads modalidades em que até ganhamos alguma coisinha..em suma este é estado da nossa televisao..e qd Sr. Penim diz que a floribella é serviço público,está td dito..

Anónimo disse...

Discordo. Os MCA são concebido para atingir um target que inclui a infância, não apenas os adolescentes e jovens adultos - e isto faz toda a diferença.

É, exclusivamente, uma questão de responsabilidade pessoal? Com certeza; e é precisamente por isso que é tão propriado o apelo ao auto-controlo e a crítica preocupada. Dirigidos primordialmene aos pais, certamente. Mas em exclusivo? Dúvidas, muitas dúvidas: "Most people in television do not know how much responsibility they have. Television has immense power and all power must be controlled. Civilisation is the fight against violence and this is threatened by television" - Karl Popper

As críticas de blogues liberais ao artigo da MFM na última Atlântico provocoram-me genuíno espanto.

Eximo-me de explicar aqui as razões porque já o fiz, em dose pantagruélica, nas caixas de comentários destes posts d'O Telescópio:

http://otelescopio.blogspot.com/2006/08/revista-atlntico-de-agosto-posta-longa.html

http://otelescopio.blogspot.com/2006/08/incompreensivel.html

gito disse...

Se não puserem esse tipo de coisas vão pôr o quê? Programs de Qualidade é!?!? Para isso, façam como eu e vejam a :2.

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo... mas tenho uma duvida ... será possivel... ou mesmo desejavel... que alguma "entidade" faça pedagogia dirigida aos pais e encarregados de educação sobre a pobreza de contiudo e dialigos dessas novelas? Só posso falar doa
orangos que vi em zapping ---

Anónimo disse...

Só acho que o mundo da politica e do futebol nao se deveriam misturar, ainda por cima um deputado ser patrão dos patros do futebol, mas isto dava outro post que aproveito para te desafiar a escrever. Até já.

Anónimo disse...

Quando ocasionalmente, ao fazer zapping, vejo dois ou três planos da tal moranguisse, passo imediatamente, de tão indigente e perverso que tudo aquilo é. Diálogos paupérrimos, representação pam,óia; umas meninas que aparentam uns15 anos, com uns marmelinhos muito repenicados nos biquinis reduzidos, muito maquilhadas, nuançadas, com brincalhoças revisteiras pendentes das orelhas. Há em tudo aquilo e aliás em toda a cultura actual de massas, portuga, um grande cheirinho a putéfia barata (macha e fêmea),a infância e adolescência parva e insolentemente obtusa.
Também estive nos Algarves recentemente. E o número de criancinhas guinchantes, nos restaurantes, perfeitas pestinhas sobre as quais, os pais não têm o menor controle, é considerável.
Invente-se outra gente!

Anónimo disse...

Viva SIC Viva TVI:
São as tv's do povo (perguntem lá ao povo do que ele gosta) morangos floribellas bigbrothers novela brazuca etc desde que o povo fique estupido é que é bom. Falam falam falam mas vão sempre votar nos mesmos, sim nos mesmos pois por dentro é tudo o mesmo só muda a casca de rosa para laranja e vice versa.
Viva Portugal o país dos pimbas

Anónimo disse...

Gostava de saber o que viam estes intelectuais que abundam na blogosfera quando eram adolescentes?
Pela vossa conversa só programas de grande erudição...
Não se compreende é como um país com uma intelectualidade deste calibre não consegue andar para a frente, pá!
A meu ver é por serem uns conas de sabão que vivem no mundo da (alegada) sabedoria.
Se fossemos um país composto por gente como Vexas seríamos um covil de ratos de biblioteca.
Não são os morangos que influenciam as criancinhas. Limitam-se a ampliar situações que já existiam antes, mas que vocês todos por serem velhos não percebem. Têm de perceber que os morangos ocupam menos de 1 hora num dia de 24, portanto o problema não tá nos morangos.
Além disso, se esta geração é assim a culpa é exclusivamente da educação que os criou, ou seja, a vossa.

Um abraço intelectualzinho para vcs

Anónimo disse...

acho que o nível das séries está (infelizmente) em consonancia com o povo português e o Portugal democrático em que vivemos, de futuro será ainda pior. quanto à morte do jovem actor não foi mais explorada que tudo o resto que vai acontecendo nesta lixeira á beira mar criada, e pode proporcionar audiências aos canais.
Portugal já faleceu.

Anónimo disse...

Salvo honrosas excepções, Morangos com Açúcar é um desfile de teenagers mal preparados, pseudo-actores que não representam nada a não ser figuras estereotipadas que navegam entre o dialogo tosco e um enredo criado por algum Cro-Magnon. É a geração casting, geração light que se está a marimbar para tudo e que não acredita em nada, a não ser numa visão egocêntrica e narcisista do mundo e que acabam por ser as celebridades a custo zero que a TVI mastiga e deita fora.
Pobres coitados...