Um dos meus blogues preferidos, o Esplanar, mudou de dono. Quer dizer, não mudou propriamente, mas o lamentável silêncio do João Pedro George fez com que o blogue partisse numa direcção inesperada. Está praticamente transformado no blogue de Carlos Leone (na foto), cuja "identidade" é revelada numa entrevista que concede ao guru Mexia, no suplemento "cultural" das sextas-feiras do Diário de Notícias. Leone escreveu um livro em dois tomos, intitulados respectivamente "Portugal Extemporâneo - história das ideias do discurso crítico moderno" e "Portugal Extemporâneo - história das ideias do discurso crítico português no século XX" (INCM). Percebe-se um pouco do propósito aqui. Não quero avançar muito sem, se for o caso, ler os referidos tomos, em especial o segundo. Todavia, as visitas que efectuo ao Esplanar e o "tom" do autor, permitem-me fazer umas breves - e desavergonhadas, provavelmente no entender de Carlos Leone - considerações. O ensimesmamento - eu sei, é terrivelmente "pradocoelhiano" - do exercício crítico, seja nas "ideias", seja, em concreto, no território literário, em vez de aproximar os "leitores" da "letra", só contribui para eles prudentemente se afastarem. Os "críticos" adoram explorar umas polemicazinhas entre si e, se possível, acompanhar o exercício com carícias alternadas com coices. Por exemplo, merecer a honra de ser entrevistado, lido e babujado por Pedro Mexia, coloca qualquer "intelectual" português contemporâneo à beira de um orgasmo. Se a coisa puder ser aconchegada com um texto "amigo" sobre a "obra", a consagração é definitiva. Nessa matéria, este suplemento do DN é, como se sabe, insuperável. Basta ler o "velho" Esplanar. Uma das graças que tem o João Pedro George é ser refractário à "capela" e à norma o que, num país de invejosos e de compulsivos analfabetos, lhe deve causar dano certo. Já Carlos Leone me parece que se leva demasiado a sério, indo ao ponto de misturar alhos e bugalhos com a sua (já) imensa vaidade. Ao contrário dele, talvez imaginando-se o Steiner luso, não julgo que os blogues sejam necessariamente "do mesmo de sempre, agora com textos cada vez mais curtos (o digital permitia dispor de mais espaço, ainda se lembram do que se dizia no início?), para gente cuja experiência de escrita e de leitura se faz por mensagens de telemóvel que se escrevem sozinhas." Fale por si, Dr. Leone, se fizer favor. Dito isto, parece-me que o Esplanar perdeu a alma. É isso. Não é fácil dizer bem.
2 comentários:
podes crer. Nunca vi o espírio de um blogue ser destruído por dentro como este.
Um dia destes faço uma apelo a ver se o George volta
":O)))
volta George, escreve.
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