17.8.06

A REALIDADE

O misterioso ministro da Presidência, o dr. Silva Pereira, aderiu, à falta de melhor, à técnica do sobe-e-desce para nos convencer que, afinal, não arderam tantos hectares assim quando se compara com a devastação de anos anteriores. Os quase 50 mil hectares deste ano satisfazem o ministro que acha que tal se deve "ao conjunto de acções no domínio da prevenção mas também no domínio do combate aos incêndios". Isto ou nada é a mesmíssima coisa, embora o ministro fale como se estivesse já a fazer um balanço. Nada, porém, o autoriza a tal, a não ser a momentânea chuva que, como os fogos, costuma surpreender toda a gente - os mesmos - por causa das inundações. Ou seja, Silva Pereira foi chamado "à frente" porque não havia mais explicações para dar e era preciso pôr um termo "político" à realidade. E a realidade é muito simples de descrever. A prevenção e os meios anunciados pomposamente pelo dr. Costa falharam, como, daí para baixo, falhou muita coisa numa ambígua "cadeia de comando" que nunca se sabe bem onde começa ou onde acaba. Enquanto os fogos decorrem, há sempre alguém que anda ao telefone a discutir legitimidades, o que ajuda, e muito, o combate aos incêndios. Por causa das referidas legitimidades e das capelinhas, os "serviços" do Estado que intervêm nesta área, não se entendem. Ninguém viu os ministros do Ambiente ou da Agricultura por aí. Viram-se, sim, anódinos funcionários, "directores", comandantes e coronéis a palrar pura burocracia, com o fogo em fundo. Em suma, o dr. Silva Pereira veio "deitar água" na fervura, sem nenhumas garantias de que, amanhã ou depois, a realidade lhe volte a entrar pela casa adentro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Aconselho vivamente a quem não leu que LEIA o ensaio de Vasco Pulido Valente no Publico de hoje, sobre este "centenário"

Anónimo disse...

Erro meu.. o comentário anterior foi aqui colocado por lapso. Queria referir-me ao post acima sobre o centenário do Marcelo Caetano. Sorry!