Registo, João, a amável advertência. Pelo que conheço de si - e só conheço o que escreve - é um homem livre. E, pasme-se, consegue acumular a condição de jornalista com a de ironista, uma qualidade que não é perceptível por toda a gente. Tem razão. Somos muito despachados, enquanto "povo", a julgar os outros. Um jornalista a comentar o incomentável - os jornalistas - é, de facto, difícil de digerir. Cintra Torres comenta televisão e, dentro desta, a informação que ela produz. Até tem uma "tese" recentemente editada. É, sem ironia, uma espécie de Mário Castrim democrático. Eu não gosto do "diz-se que". Inevitavelmente o jornalismo vive disso, do "diz-se que". E o "diz-se que", mais conhecido na gíria por "fonte", até consegue proezas extraordinárias como a que o Ministério Público e a Judiciária perpetraram no "24 horas" à conta do "envelope 9". Não era a "fonte" que interessava, era o veículo. Nesta peripécia estival, é sensivelmente a mesma coisa. Ela passa- a peripécia- por tudo o que é jornal, televisão e blogue. E o essencial fica por debater entre floreados. Se Cintra Torres "desceu" aos interstícios do gabinete de um chefe de governo, através de "fontes" que lho permitiram, talvez convenha ao governo, antes de tirar o açaimo aos mastins habituais, perceber como é que isso foi possível, partindo do princípio que o Cintra Torres anda bom da cabeça e que é verosímil o que ele escreve. É que se a coisa passa para a funesta "entidade reguladora", é o mesmo que encomendar a alma ao diabo. Sabe, João, eu tenho respeito pela actividade jornalística mas não tenho nenhum tipo de temor reverencial como, aliás, não tenho por nada nem por ninguém. Estou naturalmente a pensar - também - no Cintra Torres. O mesmo aplico aos blogues que são um engenho comunicacional como outro qualquer. Numa democracia séria - não é o caso da nossa que é imatura e, por isso mesmo, perigosa - tudo é escrutinável, desde o chefe do Estado até ao poder judicial, passando inevitavelmente pelos jornalistas. Todavia, é na abjecção do anonimato que nós nos sentimos bem. Por delicadeza ou vergonha, chamamos-lhes, às vezes, "fontes". É a vida.
1 comentário:
Tomara o Cintra Torres chegar aos calcanhares do Castrim.
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