11.7.06

DANÇA COM LOBOS


Não fosse o mecenato da Fundação EDP e o dinheiro que a Companhia Nacional de Bailado recebe do Estado pouco mais daria do que para pagar o respectivo funcionamento. Existe, nos teatros nacionais, um tropismo insanável que só uma reforma profunda do modelo de gestão poderá eventualmente atenuar. O peso das despesas de funcionamento é brutal quando comparado com o que sobra para a produção artística. É assim na CNB, é assim nos restantes teatros nacionais. Por exemplo, no São Carlos, que eu conheci bem, num orçamento de, digamos, onze milhões de euros, nove são para funcionamento, sobrando dois para a produção artística, a que acresce o mecenato do BCP. O ministério da Cultura, ao abrigo da famosa "gestão flexível", passa o tempo a tapar um buraco aqui ou ali, até que se destape o próximo. Não se sai disto. Quando eu defendi que o São Carlos devia fechar para se "reestruturar", caíu-me o "carmo e a trindade" em cima. A "técnica" é sempre a mesma: "chutar a bola para a frente" e remover a poeira para debaixo de tapete. A auditoria que o Tribunal de Contas realizou à CNB, olha para o modelo de gestão em vigor e, naturalmente, critica-o e propôe sanções. Se o Tribunal fizesse o mesmo aos restantes organismos similares, as conclusões não seriam muito diversas. Basta estar atento à "história" dos últimos vinte e tal anos destas instituições para se perceber que a tutela, quer sob a forma de secretaria de Estado, quer sob a forma de ministério, nunca soube bem o que fazer delas. A instabilidade legislativa e financeira a que têm estado sujeitas, não é da responsabilidade dos respectivos órgãos de gestão, também eles permanentemente em "danças" e em "mudanças". Meio a brincar, meio a sério, enquanto estive na direcção do São Carlos costumava dizer que aquilo só era governável em ditadura. Depois, pelo meio, há uma imensa pusilanimidade em tudo isto. Da parte da tutela - quase sempre - e da parte dos "escolhidos" para dirigir. Não é à toa que o relatório do Tribunal de Contas teve tanta publicidade quando, todos os dias, saem idênticas prosas sobre outras organizações públicas. Piedosamente, o ministério veio garantir "ajuda" e "confiança" em quem primeiro deixou ser enxovalhada, sozinha, na praça pública, sabe-se lá com que intenções. Ana Pereira Caldas é apenas um caso de "dança com lobos". Há por aí muitos mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

Notas muito breves sobre o resultado da auditoria do Tribunal de Contas:

Os resultados em todas as instituições de natureza semelhante à CNB não se devem distinguir muito dos desta auditoria.

Qualquer pessoa "mediana" fica aterrada com a descrição do funcionamento da instituição. Vale a pena ler o documento. Julgo que o primeiro culpado é o Estado, mas quem aceita gerir naqueles termos também tem a sua responsabilidades.

Última nota: 543,792,00 Euros de receitas de bilheteira para 4.913.379,00 de dotação no Orçamento de Estado???
Dá que pensar.

rm

Anónimo disse...

Privatise-se!Depois de 32 anos nada conseguiu arrancar por si... depois boa parte são estrangeiros... Só nos dão música... e ordens para PAGAR!

Anónimo disse...

Se querem começar, então proponham que se acabe com as borlas para os senhores do poder e seus compadres. Em todos os teatros nacionais e municipais existem filas sempre à espera de suas excelª. quer apareçam ou não.
PORQUÊ?