O Papa esteve vinte e seis horas em Espanha, o tempo suficiente para, repetidamente, "lembrar" que o matrimónio é coisa exclusiva entre homem e mulher. Ratzinger não é tolo. Por isso sabe que, não só o conceito tradicional de casamento tem uma ou mais interpretações laicas, como está ciente da sua "crise". A indissolubilidade prometida nos altares, cada vez mais acaba desfeita dentro de portas. E a Igreja, por mais que se esprema, não entra lá dentro. Como se isto não bastasse, a Espanha legal deixou de se referir ao casamento e respectivas sequelas como um contrato entre pessoas de sexo diverso. Agora, é um mero convénio entre pessoas. Ponto. Devia a Igreja "abençoar" estes "novos tempos"? Não me parece. Se o fizesse, comprometia séculos e séculos de doutrinação e acabava, de vez, consigo própria. Ratzinger, mais frio e distante do que o seu antecessor, mas nem por isso menos atento, limita-se justamente a preservar o essencial. Não ignora que, no meio do milhão de pessoas que o escutava em Valência e dos restantes milhões pela televisão, estavam muitos que abraçam fervorosamente a mesma fé e que praticam exactamente o contrário do que ele prega. As "muitas moradas na Casa do Senhor" - esse "caminho" que não é único - estão abertas, como sempre estiveram. O Papa limitou-se a cumprir a sua missão e foi-se embora. Tão satisfeito como os que ficaram. Cada um na sua. E Deus, à mesma, com todos.
3 comentários:
Cruel dilema. Ao tentar ser coerente com "séculos e séculos", quando o ponto mais provocador do que o Papa tem para dizer é sobre o casamento entre "pessoas", Ratzinger abraça a via da irrelevância mais completa. O que será concerteza um meio de agradar aos sectores mais fundamentalistas, que sentirão, na oportunidade de militar por uma causa irrelevante, a força da sua pura fé.
Vale a pena
... tal com um "DIPLOMATA"
Está muito bem observado. Ámen!
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