Na livraria do Instituto Franco-Português adquiri, juntamente com o Dictionnaire Malraux, um livrinho de menos de 70 páginas com uma conversa entre Michel Foucault e Claude Bonnefoy. Foucault fala da sua escrita como qualquer coisa oposta à tapeçaria. Parece que adivinhava no que se viria a transformar a "literatura", os meios académicos, as relações em geral. Uns quatro anos antes desta conversa, por carta, o nosso Jorge de Sena escrevia ao também nosso Vergílio Ferreira; «E eu não me zango, meu caro, já me convenci de que [a] humanidade é irremediavelmente vil, com algumas horas bonitas de vez em quando, e não podemos exigir-lhe mais do que pode dar. A minha concepção dessa humanidade é mais ou menos esta: amemos quem aceitou partilhar a nossa solidão; usemos dos corpos que valha a pena aproveitar, sem os comprometermos com o nosso «espírito»; façamos aquilo que sentimos não poder deixar de fazer; e é tudo.» Qualquer coisa, em suma, oposta à tapeçaria.
1 comentário:
a condição humana é uma lixeira da qual poucos escapam, para serem atropelados
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