Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho tinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
Fernando Assis Pacheco
1 comentário:
Não conhecia. Muito bom. E "humano",que tenho que pôr entre aspas,dados os maus tratos a que a palavra tem sido sujeita. Mas alguns perceberão.E bom ano para todos,não esquecendo as putas da Avenida.
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