31.1.09

O PAÍS DO ZEZITO OU O "ASSUNTO DE ESTADO PODEMOS ASSIM DIZER"


«Parabéns a uma parte do jornalismo português no caso Freeport (ou “Fripór”, como se diz em “inglês técnico”). Essa parte do jornalismo provou que a liberdade de informar e ser informado é, nos putativos sistemas democráticos do século XXI, um bem crucial dos cidadãos. Por isso a têm atacado tanto. Ela nos separa dum novo tipo de ditadura. A parte dos media vendida ao poder começou por fornecer a música de violinos à propaganda e ao lodaçal que nos afunda. Mas nota-se que alguns ratos que serviam o governo já começaram a abandonar o barco. O sistema — a investigação, o PGR, a cândida Cândida, a justiça, o parlamento, os políticos, os partidos, até a constituição — funciona para alimentar o sistema. A normalidade do sistema que nos andam a vender em comunicados, comunicações e entrevistas é a mais absurda anormalidade para nós, os outros todos. O sistema político-administrativo-judicial-financeiro parece só servir para aguentar o poder e a mentira. À crise económico-financeira gerida pela pior política financeira da UE junta-se agora a pior crise moral das últimas décadas. O sistema mantém-se à tona enquanto o país vai ao fundo. Quantos mais dias, semanas, meses perdurará a presente crise moral?»

Eduardo Cintra Torres, Público

5 comentários:

joshua disse...

Tenho sido incomodado por há longo tempo me incomodar com o Lodo Grosso que vai em Portugal.

Eduardo Cintra Torres, desde que numa cinzenta e desamparada tarde de Novembro ou Dezembro o li, folheando um Público, nas imediações deprimidas da Praça do Marquês deprimida, é claramente um irmão de percepção e de espírito: ali estava ele, naquela odorosa página, a analisar a lógica de controlo mediático, os spin doctors de marketing político pagos a peso de ouro para fabricar um Cenário Opaco ao público da nulidade governamental, a censura sistémica e subreptícia ao humor do Contra-Informação, etc.

O elogio que faz ao jornalismo estendo-o eu a ele, à sua coragem e ousadia em dizer e pensar da Socratura o que tantos temem dizer e pensar, entre os quais me figuro a mim, não sem o sofrimento por assédio - perseguição pessoal, profissional e moral, não sem o escánio de tantos vendidos ao sistema e à anomia alheada.

Anónimo disse...

O meu PM,
e sobre o assunto do dia,
teria dito duas coisas:
Uma, de louvor ao papel fundamental e indispensável da comunicação social, pesem alguns exageros e abusos ocasionais.
Outra, de incentivo e exigência ao PGR, no sentido de a curto prazo, fazer por concluir o processo.
JB

Tino disse...

Antológico texto. Afinal é o que todos (os homens-bons que sobram em Portugal) pensamos. Mas Eduardo Cintra Tores disse-o com mestria.

Anónimo disse...

Excelente a análise de Cintra Torres. Pena que tenham sobrado tão poucas vozes lúcidas ou descomprometidas.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Eu sei que não se deve fazer humor com os nomes das pessoas; não é bonito, porque ninguém tem culpa do que lhe deram.
Mas, por vezes, há coincidências que, mesmo contra a nossa vontade fazem - pelo menos - sorrir.
É o caso desta peça do DN de hoje (em "Nacional"):
_________

«Apesar das buscas realizadas à Câmara de Alcochete, e intercepções telefónicas, por suspeita de crimes de corrupção passiva e participação em negócios, nem o presidente nem os assessores foram ouvidos pela Judiciária.

O ex-presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, e a sua assessora para o urbanismo, Honorina Silvestre, nunca foram ouvidos pela Polícia Judiciária (PJ). Isto embora, a 9 de Fevereiro de 2005, tivessem sido realizadas buscas na autarquia e, dois dias antes, autorizadas escutas telefónicas por suspeita de estarem envolvidos em crimes de corrupção e de participação económica em negócio relacionado com o Freeport.
(...)»
-
Eu não sei se este artigo faz parte da tal "campanha negra". Mas o certo é que um dos autores se chama... Negrão...