27.4.08

O REINO DA ESTUPIDEZ


Na Ovibeja - lindo nome - ouvi o Paulo Portas descrever um "procedimento" confidencial seguido pelos rapazes da ASAE do Norte digno dos planos quinquenais do velho Estaline. Não estão, no entanto, sós. Segundo o DN, também os inspectores da PJ vão ser avaliados de acordo com "objectivos" quantitativos, a saber, quantas mais investigações levarem a acusação, melhor para a "carreirinha" deles. Para os da ASAE é o costume: mais contra-ordenações, mais detenções, mais estabelecimentos fechados constituem o "quadro de honra". O sr. Nunes veio desmentir mas, quem conhece minimamente o Estado e os organismos de controlo, sabe como apreciam estar "na vanguarda" de quem manda. Até porque não é certo que quem manda "mande" precisamente aquilo. O cânone dos "objectivos", a obsessão pela "avaliação" e pelo "mérito" são jargões maravilhosos que resultam - quando resultam - em sociedades que conseguiram "acantonar" minimamente a estupidez. Num país primitivo, alérgico às liberdades, gerido por pessoal "intermédio" formado na subserviência e no "agrado" e em que a "avaliação" está, em geral, nas mãos de gente ignorante e invejosa ou assenta em pressupostos risíveis, é, no fundo, a estupidez quem oficia. Segundo Carlo Cipolla, existem cinco "leis" que definem o "comportamento estúpido". A primeira, diz-nos que "cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação". A segunda, ensina-nos que "a probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa". A terceira, define a pessoa estúpida como aquela "que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo, até, vir a sofrer um prejuízo". A quarta, alerta para o facto de "as pessoas não estúpidas subestimarem sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas", isto é, "os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação, tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se, infalivelmente, um erro que se paga muito caro". Finalmente a "quinta lei" chama a atenção para o óbvio: a pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe (sublinhado meu). Conclui Cipolla - e eu com ele - que "as pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas sem que obtenham vantagens para si próprias" já que ninguém lhes agradece o zelo e o "mérito". Todavia, elas andam e mandam por aí.

6 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Pois concordo a 100%. Porém neste caso o facto é que pelo menos na aparência resulta vantagem para quem contra-ordena mais. Ou seja não se aplica propriamente a definição de "estúpido" que enuncia.
Além disso o problema da avaliação por objectivos é realmente muito interessante e muito profundo. A título de complemento considere-se por exemplo o conflito que pode existir entre um objectivo a longo prazo e um objectivo a curto prazo. E no caso político se estes (os políticos) são geralmente avaliados no curto prazo como se pode garantir que não vão privilegiar esses objectivos em detrimento dos outros, eventualmente melhores para o desenvolvimento do país mas piores para a sua carreira? Já agora este fenómeno não se resume à politica, também nas empresas se coloca exactamente da mesma forma.
Pressinto a sua resposta ... eliminando a estupidez :-) :-)

Anónimo disse...

a crassa estupidez grassa (alastra como nódoa) por toda a parte. outros factores:
"a mediocridade tem muita força" Albert Einstein
os governantes visitam os súbditos sem coluna vertebral para o beija-mão
PQP
balde-de-ca

Anónimo disse...

Uma tasquinha aqui perto de casa foi, uma tarde destas, fechada pela ASAE, porque (alegadamente) lhe faltava um papel qualquer (sendo que tem a porta aberta há dezenas de anos e o alvará em ordem).
No dia seguinte, um telefonema da mesma ASAE mandou reabrir a casa, porque houvera engano.
Isto, claro, porque entretanto o dono da tasquinha se mexeu...
Aconselhei-o a pedir uma indemnização pela noite em que esteve sem poder servir jantares, mas disse-me que não senhor, não ia fazer nada disso, porque tem medo das consequências.
E é de ter, convenhamos.

Nuno Castelo-Branco disse...

Antes havia o lápis azul, os tribunais plenários e as visitas a horas despropositadas. Hoje é o método simplex: vão ao bolso das pessoas. Mais prático, mais intimidatório e sobretudo, mais lucrativo!

Anónimo disse...

descartes dizia que o bom senso era a coisa melhor distribuída; por cá parece ser, efectivamente, a estupidez...

Anónimo disse...

Já há muito tempo que li o Cipolla. Lembro-me que a conclusão mais importante que retirei foi que a estupidez não tem a ver com o canudo: a percentagem de estúpidos doutores é igual á dos estúpidos iletrados. Não tem a ver com o estatuto social: Pode ser-se um figurão importantérrimo e simultâneamente bronco como um penedo. Não tem vêr com com a posição na geografia política: O número de estúpidos na esquerda é equivalente ao número de estúpidos de direita. Basta ir á história para para vêr que a religião não nos defendo dos estúpidos: há de todos os credos, seitas e confrarias. Também nada tem a vêr com a côr da pele do estúpido: é só lêr as noticiários. Não tem a vêr com o sexo: por cada dama irremediávelmente estúpida há no mínimo um cavalheiro crónicamente estúpido. Se calhar é por tudo isto que a estupidez é das coisas menos estudadas, sobre que menos se escreve, se fala ou pensa sequer.

Nota - Devo confessar, no entanto, que tenho algumas dúvidas no caso da destribuição geográfica da estupidez. Em teoria ela deveria ser mais ou menos igual. Dito de outra forma; Portugal teria o mesmo número de estúpidos que a Holanda, ou a Dinamarca ou o Luxemburgo e até aí tudo bem. O que me faz confusão é que o nosso PIB seja tão pequenino