13.4.08

O "QUARTETO" OU O DERRADEIRO ENCANTO

O "Quarteto" fechou por causa da já tradicional "falta de condições". Levado a peito, este princípio devia obrigar a fechar o país. O "Quarteto" nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário, faz parte de uma época em que "ir ao cinema" era um prazer e uma rotina inteligente. Podia circular-se entre as quatro salas a propósito de um "festival" qualquer ou por causa dos filmes em cartaz. Naqueles anos ninguém se preocupava em saber se as salas eram "confortáveis" ou se era possível levar pipocas e coca-colas lá para dentro. Não. Era a pueril alegria de ver cinema. Vi ou revi seguramente os meus melhores filmes em alguma daquelas quatro salas votadas agora ao desprezo pelo sistema "saudável" que nos governa. Pedro Bandeira Freire é o corpo e a alma do "Quarteto". O corpo - que tantas partidas lhe tem pregado, como se pode ler no livro da foto - pregou-lhe mais uma. Que saia rapidamente dela, é o meu singular desejo. O cinema em Portugal - coisa diferente do cinema português - deve muito a Bandeira Freire. E que o "Quarteto" possa regressar com o seu derradeiro encanto. Aquele que, nas palavras de Roland Barthes, "nos advém das ficções da cultura."

7 comentários:

cristina ribeiro disse...

Tenho boas recordações dessas salas de cinema; quando andei por Lisboa, vi aí alguns dos "filmes da minha vida".

Carlos Medina Ribeiro disse...

A propósito do fecho do Quarteto, Joaquim Letria escreveu uma das suas saborosas crónicas fazendo um trocadilho com o título de um filme: «Autópsia de um Crime».
O texto pode ser lido no blogue dele, [aqui].

Anónimo disse...

Caro João, eu também andei muito pelo Quarteto e fiz por lá parte da minha educação cinéfila. o problema é que o Quarteto perdeu a corrente de público nestes últimos anos, primeiro por causa da concorrência agressiva dos vizinhos King, que lhe copiaram o modelo pioneiro em Portugal - um multiplex que passava filmes de "arte" e filmes mais "mainstream" -, depois por causa dos outros multiplexes, instalados em centros comerciais centrais e amplos, cheios de lojas e sítios para comer, ao pé de múltiplos transportes públicos. Os hábitos de ir ao cinema dos lisboetas mudaram muito nos últimos anos, e o DVD e as TV "artihadas" ainda vieram alterar mais a situação. O Quarteto é, em grande parte vítima de todas estas mudanças. E também de não ter conseguido adaptar-se a elas e ter entrado numa lenta e triste decadência. Eu, por exemplo, deixei de lá ir há anos. Tal como desapareceram os cinemas de bairro todos, agora começam também a desaparecer as salas que sucederam a estes.

fado alexandrino. disse...

começam também a desaparecer as salas que sucederam a estes.

Já não ia ao cinema há um par de anos.
Fui ao Colombo ver uma fita.
A bilheteira é no bar.
Na sala a 10% dois garotos falaram todo o filme.
Outros mastigaram todo o filme.
O cheiro a pipopcas era ensurdecedor.
Vai demorar mais um par de anos a voltar a por os pés num cinema.

Anónimo disse...

Bons filmes por lá passaram e muitos lá fui ver. Durante certo tempo era um dos Cinemas com bons filmes Franceses, Italianos e alguns bem Portugueses.

Anónimo disse...

se o quarteto não teria fechado se pertecesse a algum residente do largo dos ratos
balde-de-cal

dorean paxorales disse...

A última vez que fui ao Quarteto nem me lembro do que ia ver. A sala estava vazia a menos de mim próprio e de um grupo de adolescentes sentados nas cadeiras de trás. Estes não via o filme, falavam e riam-se enquanto fumavam um charro. A arrumadora não se atreveu a dizer-lhes nada e eu, que sou um lover e não um fighter, também não. Levantei-me e fui embora.