23.9.06

O CONSOLO DA FILOSOFIA


Ainda só li um jornal, à mesa do café, a torradas, tosta mista e sumo de laranja. A pior notícia do Sol diz-me que a filosofia deixa de ser obrigatória até para aceder, na universidade, ao curso da dita. Formei-me em direito mas não saberia sobreviver - já nem sequer digo viver - sem aquilo a que Boécio chamava "o consolo da filosofia". Aliás, foi nas masmorras que Boécio escreveu o livrinho, só, torturado e votado a uma morte prematura por causa da "política". As "modernas" gerações estão a ser criadas para a facilidade e para o não pensamento ou, quando muito, apenas para o "pensamento que calcula", de acordo com a fórmula de Heidegger. Daí a reprodução em série de licenciados analfabetos. Um amigo meu, que ensina física na universidade, mal consegue ler os testes dos seus alunos, apesar da "matéria". Outros desistem, noutros cursos, logo aos primeiros parágrafos. A filosofia ajuda a pensar e pensar não consta da "agenda" do dia. Quando entrei para a universidade, a faculdade onde se incluía o direito, era chamada de "faculdade de ciências humanas". Agora é mais uma "faculdade de direito". Não poder aceder, por causa da estúpida burocracia da "educação" democrática, a uma das mais belas realizações do espírito humano, diz tudo dos tempos que vivemos. Ou melhor, que não vivemos.

12 comentários:

Anónimo disse...

É lamentável e gostava de saber quem faz estas coisas. Como se admite perdê-las, quero dizer.

Como é possível ensinar alguma coisa a uma pessoa que não sabe o que é um "conceito"? Dei aulas durante 3 anos, e verifiquei que a capacidade de abstracção é cada vez menor.

Unknown disse...

Não é verdade o que o "sol" diz. A Filosofia continua a ser obrigatória no 10º e 11º, em todos os cursos. No 12º aparece como opcional em CC-H.
Poderá confirmar neste endereço:

http://www.novasoportunidades.gov.pt/modalidade_detalhe.aspx?cod=13

Anónimo disse...

Portugal caminha para uma trivialidade arrepiante. As nossas elites exclusivamente concentradas no "ter" esqueceram o "ser". A boçalidade dos nossos ministros (incluindo o primeiro) e dos nossos presidentes (incluindo o actual)nem repara na gravidade destas medidas. Um país de gente que não pensa governa-se melhor.


alcoólico-anónimo

Anónimo disse...

Sejamos realistas. Numa economia global, onde a competividade é fundamental, os cursos de ciências humanas e sociais (à excepção, talvez, da sociologia, quando aplicada à vida empresarial) não preparam gente para o mercado de trabalho. Que empresa bem gerida e que queira ser competitiva irá admitir um sujeito licenciado em filosofia ou em história, por exemplo? Pouco ou nada conhecem acerca do mundo real. Alguns trazem a cabeça cheia de ideias ocas ou mesmo subversivas. Isto quando não são semi-iletrados.
Há que fechar certos cursos universitários que não estão ligados a saídas profissionais, ou limitá-los drasticamente, para rentabilizar o investimento no ensino.

Anónimo disse...

Este "Vasco" é do Compromisso Portugal ?

Anónimo disse...

Como diz a Cecília, a Filosofia continua a integrar os currículos do ensino secundário nos 10º e 11º anos, pª todos os cursos incluindo os de carácter científico, exactamente como no anterior currículo. Já a opção de exigir uma disciplina como específica no acesso ao ensino superior é da exclusiva competência das universidades - e se prescindem de disciplinas ditas 'exigentes' por alguma razão será (sabe o que são 'rácios' na máquina logística do ensino superior? aquela coisa em q se alarga o facilitismo ou aumenta os chumbos pª garantir nº de alunos capaz de assegurar o empreguito aos que por lá andam?).

Anónimo disse...

Metade do que o "Vasco" diz é verdade... a outra metade é uma imbecilidade... Escolham.

Anónimo disse...

Em números, como o Vasco deve gostar, 70% do que diz é imbecilidade, 30% é a autonomia das universidades a viver à sombra do estado.

Sauridio

Anónimo disse...

Imbecilidade? Vejamos. Hoje quase todos os jornais diários dão a receita que há uma semana foi preconizada por quem sabe, no "Compromisso Portugal", a respeito da função pública. Respigo da notícia do "Público" a seguinte passagem: «Na opinião da comissão, "o recrutamento (para o funcionalismo público) depende excessivamente das habilitações académicas e do saber retórico, desatendendo às necessidades específicas do serviço"».
Se Heidegger e outros filósofos quaisquer nos ensinassem a criar emprego e riqueza, talvez valesse a pena perder tempo com eles. Assim não. A filosofia, tal como a história e outras áreas das ciências humanas, não são matérias peioritárias. Delas, bastará o suficiente para formar cidadãos/consumidores conscientes dos seus deveres e do seu papel na sociedade civil. Saber retórico para gastar o tempo do patrão já há muito quem o faça. No sector privado ainda pode ser despedido. Na função pública só poderia ser promovido. Mas os ventos estão a mudar, felizmente.

Anónimo disse...

matérias prioritáris e não "peioritárias"

Anónimo disse...

...claro que a Filosofia é para cabeças NÃO-OCAS !!!! Não é, certamente, para o Vasco .....

Anónimo disse...

Efectivamente, há pessoas que nasceram de olhos fechados, e nunca tentaram abri-los...
Quando 'morrer' a filosofia, morrerá a 'humanidade'...