17.9.06

DA FRAGILIDADE HUMANA


O João Morgado Fernandes foi buscar um artigo ao El País sobre Marilyn Monroe, ou melhor, sobre uma exposição em Paris que mostra, nos dias finais, o que sobrou de Monroe, aos trinta e seis anos. São as célebres fotografias de Bert Stern que ilustram a edição que possuo da "Marilyn" de Norman Mailer. O texto do correspondente do El País é ligeiramente tonto, à excepção deste bocado: "Para el espectador del 2006 que Marilyn se desnude no tiene ningún interés. Lo que nos impresiona es que vemos cómo se emborracha, cómo sus ojos dejan de fijarse en un punto concreto, como sus músculos se relajan bajo el efecto del alcohol y las pastillas." Dito assim, friamente, perde-se o essencial da mágoa daquela "beautiful child" que Marilyn foi. Para uma geração educada para a "felicidade", no fitness, nos sumos naturais, na corridinha matinal, no culto do corpo e no ódio ao fumador, é difícil entender que uma pessoa "de sucesso" fracasse às mãos da bebida e dos estupefacientes. Para essa geração - e o texto do jornalista espanhol é um bom exemplo do que digo - a fragilidade humana não pode ser exibida, nem sequer como uma imensa tragédia. Quando muito, consente-se o lado "cómico" da coisa, lá onde só existia dor e a irredimível vontade de lhe pôr um fim. Por isso, apetece-me terminar com as palavras de Mailer sobre Marylin.

"Marylin is gone. She has slipped away from us over the edge of the horizon of the last pill. No force from outside, nor any pain, has finally proved stronger than her power to weigh down upon herself. If she has possibly been strangled once, then suffocated again in the life of the orphanage, and lived to be stifled by the studio and choked by the rages of marriage, she has kept in reaction a total control over her life, which is perhaps to say that she chooses to be in control of her death, and out there somewhere in the attractions of that eternity she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply."

4 comentários:

Anónimo disse...

E a Marilyn Monroe do 'Music For Chameleons' do Capote?...

Pedro Ludgero disse...

Penso, aliás, que a maioria dos realizadores que se prezam, continuam a fazer filmes para a Monroe...
Pedro Ludgero (cabodaboatormenta)

João Villalobos disse...

Para mim continua a ter todo o interesse que a Marilyn se desnude. Serei cabotino? :)

Anónimo disse...

Embora Marilyn não tenha querido conhecer Norman Mailer por achar que ele não era suficientemente interessante e embora Norman Mailer tenha confessado que só escreveu o seu livro "Marilyn" porque precisava de dinheiro e sabia que qualquer livro com muitas imagens estupendas de Marilyn venderia, no meio do seu texto lirico, é capaz de dizer algo interessante sobre Marilyn, melhor que fazer troça da "Fragilidade Humana".