29.12.05

SEM HESITAÇÕES

Ontem, na "Quadratura do Círculo", na SIC Notícias, Jorge Coelho, o voluntarista de serviço do PS, expendeu uma tese curiosa sobre o destino aparente dos votos do "centro-esquerda" nas presidenciais. Segundo ele, este eleitorado que terá dado a maioria absoluta a Sócrates em Fevereiro, anda agora indeciso entre os candidatos do PS, designadamente Soares, e Cavaco Silva. Porém, como Coelho acha que "Cavaco está a descer" e que depois do episódio gravíssimo da secretaria de Estado o tal eleitorado terá ficado "assustado" com a perspectiva de um presidente "interventor" e "crispado" (sic), tudo aponta para a transferência de tamanha indignação para o dr. Mário Soares, o "estabilizador". Percebe-se o "whisful thinking" de Jorge Coelho. Contudo e com o devido respeito, deve recordar-se a Coelho duas ou três coisas. Em primeiro lugar, o tal eleitorado que votou no PS e que lhe deu a maioria absoluta, veio tanto do "centro-esquerda" como do "centro-direita". Rejeitou primariamente Santana Lopes e apostou no "social-democrata" Sócrates. Numa palavra, queria rigor e um módico de credibilidade nas instituições. Em segundo lugar, este eleitorado desconfia, por natureza, da bondade da candidatura de Mário Soares e, de certeza, não encontra nela o paralelo rigor - agora, "presidencial" - que o levou a optar por Sócrates. A prova disso anda nos "estudos" e "sondagens" nos quais, mesmo nas melhores hipóteses, Soares não chega a metade das intenções de voto manifestadas a Sócrates. Finalmente, a sensibilidade desse eleitorado, claramente preocupado como o futuro imediato e com a chamada "vida material", não é surpreendível pelos "contos de terror" anunciados pelas candidaturas ditas de "esquerda", a começar pela de Soares. A isso, preferirá sempre aquele que lhe garanta, se possível, ainda mais rigor e mais segurança. Dito de outra maneira, alguém que, sem abdicar da sua legitimidade democrática, não faça ao engº Sócrates aquilo que Soares andou, no último mandato, alegremente a fazer ao primeiro-ministro a partir dos jardins de Belém. Ou seja, em matéria de credibilidade e de confiança, esse eleitorado que tanto entusiasma Jorge Coelho, não deverá hesitar.