30.12.05

ANO A SABER A POUCO - 2



Voltemos ao "balanço". Tenho, em relação a este ano, a "sensação" do Pessoa deste verso: "a Verdade nem veio nem se foi/o Erro mudou". Procuro nos livros, esses amigos verdadeiros e silenciosos, o que me falta na "condição humana". Leio e releio. Há autores a que volto constantemente, ano após ano. Ao mal amado Henry Miller e a um livrinho descoberto na Barnes & Noble da 5ª Avenida, com as mãos a cheirar a mostarda de "hot-dog", "Stand Still Like The Hummingbird", de 1962. A Gore Vidal, nas suas memórias (Palimpsest) e aos ensaios reunidos no "United States". Ao Cioran, das "Entretiens" ou ao "Le Rideau" de Milan Kundera, editado em 2005. Ao "Honourable Schoolboy" de John Le Carré ou, também deste ano, "Rousseau e outros cinco inimigos da liberdade", de Isaiah Berlin. Aos livros do Steiner, qualquer um, ou a Harold Bloom, "How shall wisdom be found'", escrito depois da doença o ter farejado. Mas há mais:
  • os artigos de Mario Vargas Llosa para o El Pais, com tradução (por vezes sofrível) no DNA;
  • o "Inimigo Público" do "Público" que consegue, tantas vezes, pôr-me a chorar a rir;
  • o fim da "política à portuguesa" do arquitecto Saraiva;
  • a "Sociedade Aberta", com Mário Soares e António José Teixeira, até ao programa em que Soares "fingiu" que estava num "período de reflexão"
  • o Rogério Alves, meu amigo de sempre, para Bastonário da Ordem dos Advogados;
  • um número da "Sábado" em que Cavaco aparecia na capa de óculos escuros, de calções de banho e de sapatos de vela, no Brasil;
  • "O sexo e a cidade", de Candace Bushnell, lido praticamente no meio de gente nua na praia, entre mergulhos e passeios à beira-mar com calções de banho;
  • "Catarina, a Grande", de Isabel de Madariaga, levado para um fim-de-semana prolongado num hotel em Porches, junto ao mar;
  • uma biografia de Mao, "o imperador das formigas azuis", da "Ulisseia", descoberta num alfarrabista no Cais do Sodré;
  • a entrevista do Luíz Pacheco ao João Pedro George no "Esplanar";
  • a expressão do Pacheco, "qualquer coisa ou pessoa vista pelo olho do cu", tirada do "Diário Remendado" e que se aplica a tantas coisas e a tantas pessoas;
  • as laranjas do Algarve compradas no meio da EN 125;
  • os bolos de amêndoa da "Casa Inglesa" de Portimão;
  • os almoços solitários ao balcão da "Cervejeira Lusitana";
  • a santola e o vinho verde com que comecei o ano, sozinho, a ver o horrível "Tróia" com o ainda mais horrível Brad Pitt, em versão musculada;
  • a descida às caves da "Celta Editores" numa tarde em que me apeteceu comprar todos os livros de Carlo M. Cipolla, por causa das suas "leis fundamentais da estupidez humana" (não tenho a certeza que tenha sido este ano...);
  • as FNACS com os seus cafés e os seus leitores, mesmo os da banda desenhada;
  • o livro dos "Poemas" de Kavafis, traduzidos pelo Joaquim Manuel Magalhães, depois do jovem poeta Vasco Gato ter ficado com os meus primeiros;
  • o prazer de fazer o "Portugal dos Pequeninos", de escrever noutros blogues e de ler os "cobloggers";
  • sentir, todas as manhãs, o "Bruno", o meu labrador retriever, à porta do meu quarto.

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