22.12.05

DE HOJE A UM MÊS

Precisamente daqui a um mês estaremos a escolher o Chefe de Estado para, em princípio, os próximos dez anos. Nesta campanha estão estimáveis criaturas que se encontram, inamovíveis, literalmente "sentadas" em cima da Constituição da República. Elas, sim, "blindadas". Não lhes chegou o exemplo do agora candidato que já foi presidente e que, precisamente com as mesmas linhas constitucionais, edificou dois mandatos completamente distintos. Depois, nunca é demais dizê-lo, duas das candidaturas apenas andam por aí, com as línguas de pau dos respectivos breviários, a defender os seus respeitáveis cantinhos. Por seu lado, Alegre e Soares cavalgam, com intermitências em matéria de sucesso mediático, a esquizofrenia presidencial do Partido Socialista. A militância e a persistência de Soares deverá sobrepôr-se ao quixotismo vaidoso de Manuel Alegre em termos de votos. Porém, e sobretudo depois do debate com Cavaco Silva, o país ficou com a ideia de que Soares concorre, em primeiro lugar, para si próprio e, depois, para uma vaga cadeira de um não presidente. Foi e está a ser tão minimalista em matéria das funções que pretende vir a exercer que apetece perguntar por que é que está nesta corrida. É evidente que sabemos a resposta. Todos os dias Soares, o desconstrutivista, nos elucida sobre isso. Ao fazer da sua candidatura uma permanente bandeira "a preto e branco", Soares escolheu o caminho da "frescura" e da "acutilância", tão significativamente elogiadas por Jerónimo de Sousa, e que manifestamente não o leva a lado nenhum. Meses depois de a anunciar, Soares conseguiu finalmente transformar a sua candidatura naquilo que se pressentia que ela iria ser desde o princípio: a apoteose da sua "superioridade" ressabiada. É por isso que a eleição de Cavaco Silva, daqui a um mês, é simultaneamente um ponto de chegada e um ponto de partida. No primeiro caso, porque acabam definitivamente os mitos quanto à "propriedade" do regime democrático. No segundo, porque se dará continuidade ao "ciclo" de credibilidade iniciado com as eleições de Fevereiro último, no qual o Presidente da República deverá ser, mais do que um mero "moderador" de banalidades consensuais ou um "catalizador" de nulidades cortesãs, um agente activo e liderante que prestigie - com um sentido de verdadeira utilidade pública e através da sua legitimidade democrática única - o cargo que ocupa.

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