13.3.10

MEMORIAL


No escaparate de uma livraria, vi autografados uns quantos bacamartes do jornalista Rodrigues dos Santos. Fúrias e fúrias, codex e codex, numerologia e numerologia da Buraca assinados por esse vulto da literatura portuguesa contemporânea. Toquei num e, lamentavelmente (para mim, claro), não aconteceu nada. No caminho só me lembrava que preciso de um cão. Para recuperar alguma humanidade que me permita "sentir" coisas destas, admirar espaços verdes e comover-me com os leitores de Rodrigues dos Santos, esses zombies que me acompanham invariavelmente no metro com os tais calhamaços sem autógrafo. E regressemos a Mafra onde outros zombies também o lêem.

9 comentários:

Unknown disse...

Esses zombies fizeram desse “vulto da literatura portuguesa contemporrânea” um bestseller, que, por sua vez, tornou esses zombies em leitores! Ou vice-versa! Melhor que ler notícias cor de rosa!

Feirante ocasional disse...

Vi hoje à venda na Feira da Ladra um livro qualquer com uma cinta contendo uma frase desse "escritor", que pelos vistos assina o prefácio da coisa.
Diz ele taxativamente isto: "Diariamente recebo dezenas de originais de escritores emergentes...".
Admire-se a prosápia: diariamente (!!!) a nova intelectualidade submete dezenas (!!!) de obras à apreciação de sua eminência.
Não há limites para o descoco.

Unknown disse...

Um país tão pequenininho... “dezenas diariamente”... não sei! Mas acredito que receba alguns originais com frequência, isso acredito! O espaço da literatura é muito limitado, é muito elitista e os tais “escritores emergentes” vão ter muita dificuldade em publicar os seus livros se não tiverem uma “achega” de alguém que é muito conhecido e apreciado, mesmo que seja pelos menos intelectuais... pelo que parece. Uma coisa é certa, se se vê pessoas nos transportes públicos a lê-lo, isso é bom sinal. Os portugueses, afinal, lêem!

Unknown disse...

Deveria ter acrescentado: ... lêem livros e não somente revistas cor de rosa!

Anónimo disse...

Um post extraordinariamente bem sucedido.

Anónimo disse...

Caríssimo J.G.
Ter um cão (soube-o há pouco) é das coisas mais gratificantes que pode haver.
Sei que perdeu o seu há algum tempo e lamento, mas permita-me uma sugestão; arranje outro.
É o que eu farei SE sobreviver à minha cadela (eu tenho 60 e ela 2...).
Cumprimentos.
D.O.

Anónimo disse...

Deu-me prazer encontrar numa livraria Bertrand o Saramago misturado com estas artes do codex, numerologia e outras magias.

Ficam bem um para o outro!

Isaac Baulot disse...

E ninguém se lembra desse outro grande vulto da literatura, que dá pelo nome de Miguel Sousa Tavares?
Que digo eu? Da literatura? De tudo, o verdadeiro tudólogo.

www.angeloochoa.net disse...

João Gonçalves:
Se me permite, já que seu Bruno negro (assim se chamava (se bem lembro) seu cão amigo)é morto, lhe lembro que minha cadelo Mirita é viva ainda e só para o informar (quiçá aconselhar) lhe lembro a raça dela : podengo pêlo de arame rafeiro alentejano -- faça uma digressão ao profundo Alentejo que hoje comunistas não comem criancinhas e pesquise por um exemplar repito «rafeiro pelo de arame podengo alentejano português»... sexo não é argumento -- macho ou fémea será amigo melhor do que qualquer (des)humano… -- garante-lhe este seu 'choa!