Gostei de ouvir o juiz presidente da comarca do Baixo Vouga, o dr. Brandão. Quando explicou que ali a acção penal e a administração da justiça correm normalmente. Sem jogos florais, vedetismos provincianos ou declarações inconsequentes.
O Sr.Juiz Presidente da referida Comarca, pela forma directa, frugal e concisa que anuncia as decisões do seu tribunal, dignifica as funções de que está investido e num aspecto mais lato dignifica todos os magistrados que trabalham arduamente e que não andam bicos de pés ou a correr atrás dum microfone ou pior ainda, a serem vedetas de rádio e televisão.
Um bom exemplo para todos os tribunais e para todas as instâncias.
1-Alguém acredita que se as escutas fossem inóquas estariamos perante tanta gente a arriscar tanto, desde prestígio profissional até à idoneidade pessoal???
2-Todos são inocentes até prova em contrário, mas a história reteve, com ou sem sublinhado, algum momento onde uma figura pública estivesse "acusada" de tantos "casos" sem que houvesse fogo a alimentar tanto fumo?
3-Sendo verdade incontornável que a Justiça foi engolida pelos interesses de quem está na política, não é também verdade que este é um momento excelente para que essa mesma Justiça rebente com as grilhetas e escape do buraco nauseabundo onde a política a encerrou?
No final da semana passada, com os microfones e as câmaras à frente, José Sócrates explicou ao país que “uma coisa era o Primeiro-Ministro a falar no Parlamento; outra coisa eram as conversas privadas dele com um amigo”. Ou seja, Sócrates justificou-se com a velha história da dupla personalidade, tão do agrado dos portugueses.
Uma coisa é ele “como Primeiro-Ministro”, outra coisa é o “Nando Vara e o Zé”, amigos de longa data e de muitas patuscadas, a trocarem umas larachas e umas ideias ao telelé. São obviamente duas pessoas diferentes, certo? Sócrates “como primeiro-ministro” não é a mesma pessoa que “o Zé amigalhaço”. Aquilo que se aplica a um, em termos de regras e deveres, não se aplica necessariamente ao outro.
Isto, é preciso dizer, é tipicamente português. Quantas vezes já ouvimos alguém dizer na televisão: “Bem, a minha opinião pessoal é diferente, mas como director deste serviço penso que...”, ou “como pai, penso isso, agora como advogado, é preciso levar em conta que...” Para se justificarem, ou para se safarem de situações incómodas, os portugueses usam muitas vezes este artifício, este leve sintoma de esquizofrenia, esta pequena manifestação de dupla personalidade.
Como se fossem seres divisíveis, e pudessem existir inconsistências entre as várias partes. Ele é o pai, o marido, o director da empresa, o fã de clube de futebol, mas obviamente o pai e o marido, que são uma e a mesma pessoa, podem ter opiniões contraditórias; e claro que o mesmo se passa entre o director da empresa e o pai. Como quem diz, “eu enquanto pai até posso pensar assim, mas como sou director, pá, estás lixado e vai mas é trabalhar!”
Infelizmente para ele, José Sócrates não é um português qualquer, e pertence mesmo àquele pequeno grupo de portugueses a quem não se pode aplicar estes conceitos tão lusitanos de dupla personalidade ao sabor das circunstâncias. Ele é primeiro-ministro, e é primeiro-ministro sempre.
Esteja ele a falar com os amigos, com os filhos, com a namorada ou com o carteiro, é sempre primeiro-ministro, e não pode suspender os seus deveres e a sua ética só porque está a ter uma “converseta” com um amigo. A dupla personalidade é um luxo de que muitos portugueses gostam de usufruir, mas não é um luxo utilizável por um primeiro-ministro. Não sei se o que os amigalhaços Nando e Zé disseram entre si é grave ou criminoso, mas sei pelo menos que Sócrates revelou uma perigosa inconsciência.
6 comentários:
É um homem. Ainda há homens, embora os cães lhes mordam as canelas. E os blogues, ainda há homens nos blogues ou somente Lupanar e Pândega?!
Não. Rareiam!
Há dez anos que Penedos não entrega a declaração de rendimentos ao TC ... e nada lhe acontece.
País de merda!
O Sr.Juiz Presidente da referida Comarca, pela forma directa, frugal e concisa que anuncia as decisões do seu tribunal, dignifica as funções de que está investido e num aspecto mais lato dignifica todos os magistrados que trabalham arduamente e que não andam bicos de pés ou a correr atrás dum microfone ou pior ainda, a serem vedetas de rádio e televisão.
Um bom exemplo para todos os tribunais e para todas as instâncias.
com os socialistas só o lixo humano atinge lugares de topo.
tal como Rui Teixeira é mais um que se lixa.
já tinham feito o mesmo a Ricardo Cardoso quando do polvo de Macau (melancia)
3 perguntas que podem matar:
1-Alguém acredita que se as escutas fossem inóquas estariamos perante tanta gente a arriscar tanto, desde prestígio profissional até à idoneidade pessoal???
2-Todos são inocentes até prova em contrário, mas a história reteve, com ou sem sublinhado, algum momento onde uma figura pública estivesse "acusada" de tantos "casos" sem que houvesse fogo a alimentar tanto fumo?
3-Sendo verdade incontornável que a Justiça foi engolida pelos interesses de quem está na política, não é também verdade que este é um momento excelente para que essa mesma Justiça rebente com as grilhetas e escape do buraco nauseabundo onde a política a encerrou?
ASS: O HOMEM DA ESQUINA
O Nando e o Zé
No final da semana passada, com os microfones e as câmaras à frente, José Sócrates explicou ao país que “uma coisa era o Primeiro-Ministro a falar no Parlamento; outra coisa eram as conversas privadas dele com um amigo”. Ou seja, Sócrates justificou-se com a velha história da dupla personalidade, tão do agrado dos portugueses.
Uma coisa é ele “como Primeiro-Ministro”, outra coisa é o “Nando Vara e o Zé”, amigos de longa data e de muitas patuscadas, a trocarem umas larachas e umas ideias ao telelé. São obviamente duas pessoas diferentes, certo? Sócrates “como primeiro-ministro” não é a mesma pessoa que “o Zé amigalhaço”. Aquilo que se aplica a um, em termos de regras e deveres, não se aplica necessariamente ao outro.
Isto, é preciso dizer, é tipicamente português. Quantas vezes já ouvimos alguém dizer na televisão: “Bem, a minha opinião pessoal é diferente, mas como director deste serviço penso que...”, ou “como pai, penso isso, agora como advogado, é preciso levar em conta que...” Para se justificarem, ou para se safarem de situações incómodas, os portugueses usam muitas vezes este artifício, este leve sintoma de esquizofrenia, esta pequena manifestação de dupla personalidade.
Como se fossem seres divisíveis, e pudessem existir inconsistências entre as várias partes. Ele é o pai, o marido, o director da empresa, o fã de clube de futebol, mas obviamente o pai e o marido, que são uma e a mesma pessoa, podem ter opiniões contraditórias; e claro que o mesmo se passa entre o director da empresa e o pai. Como quem diz, “eu enquanto pai até posso pensar assim, mas como sou director, pá, estás lixado e vai mas é trabalhar!”
Infelizmente para ele, José Sócrates não é um português qualquer, e pertence mesmo àquele pequeno grupo de portugueses a quem não se pode aplicar estes conceitos tão lusitanos de dupla personalidade ao sabor das circunstâncias. Ele é primeiro-ministro, e é primeiro-ministro sempre.
Esteja ele a falar com os amigos, com os filhos, com a namorada ou com o carteiro, é sempre primeiro-ministro, e não pode suspender os seus deveres e a sua ética só porque está a ter uma “converseta” com um amigo. A dupla personalidade é um luxo de que muitos portugueses gostam de usufruir, mas não é um luxo utilizável por um primeiro-ministro. Não sei se o que os amigalhaços Nando e Zé disseram entre si é grave ou criminoso, mas sei pelo menos que Sócrates revelou uma perigosa inconsciência.
Domingos Amaral - CM
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