O Vítor - um leitor amigo aqui, no Brasil ou nos frios nórdicos da Europa - enviou-me as fotos que ilustram o post. Vão, naturalmente, aparecer muitas vezes. Diz ele que denotam, uma, «picaretas falantes, uma cavalgadura que deita água pela boca, aqui não turva para que pareça profunda.... e a outra, que quase ilustra o "portugal de sucesso", um carreteiro que espera atravessar a rua, rodeado de anúncios educativos, fashion, etc., afogado em propaganda mas a ter que puxar a carroça de tudo pela estrada do nada, como diria o Pessoa.» Isto leva-me às primeiras páginas do livro que a Carla me recomendou, O Filósofo e o Lobo (Mark Rowlands, Lua de Papel, 2009). O que me aconteceu este ano, sobretudo depois da morte do meu cão - doze anos de irmão/cão -, foi simplesmente tornar-me numa coisa diminuída. Só agora percebo que, afinal, a linguagem em que eu e o cão nos entendíamos me ajudava a entender (ou a fazer por entender) outras linguagens designadamente de pessoas. Sem ele e sem essa nossa linguagem privativa, ficou-me mais díficil do que já costumadamente era lidar com pessoas por estar mais desperto para a coisa não-cão em que elas, afinal, consistem. É aí que reside a minha diminuição a que nem o mais empedernido cristianismo consegue prover. Rowlands tinha um lobo doméstico e com Brenin - era o nome do animal - aprendeu que "não havia lugar para ele (Brenin) na sociedade civilizada". «A verdade é que ele não era nem de perto nem de longe, suficientemente perigoso e nem suficientemente desagradável. A civilização, penso, só é possível para animais verdadeiramente desagradáveis. Só um primata consegue ser verdadeiramente desagradável.» Sem o lobo/cão, sou apenas uma coisa diminuída.
3 comentários:
na nossa paisagem interior temos pontos fracos e fortes.
sofremos angústia, solidão, silêncio.
vencemos os obstáculos sozinhos porque é escassa a personalidade dos nossos conhecidos.
no cântico dos cânticos «as vigas da nossa cas são de cedro»
neste mundo em ruínas (cataptose) felizmente dedica o seu tempo à crestomacia
temos por obrigação fustigar os dirigentes atén ao limite da crueldade
porque como disse um escritor lartino
«fazem as burrices e o povo apanha coices»
sou como Nicolai Berdiaev «apenas um peregrino»
E, por falar em «picaretas falantes», o Francisco Assis (não o Santo, mas o mártir de Felgueiras) diz que o PS vai combater (?) a corrupção "sem cair em populismos".
Como sou um pouco 'quadrado', não entendo o que o homem quer dizer!?
Estás um autêntico Frederico II. Esse, deixou os panteões e pediu para ser enterrado ao lado das suas duas cadelas. A curiosidade é que só lhe fizeram a vontade há uns poucos anos, bem depois da reunificação alemã.
És tu com o teu cão e eu com o meu gato branco e as duas gatas pretas.
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