«Parabéns a uma parte do jornalismo português no caso Freeport (ou “Fripór”, como se diz em “inglês técnico”). Essa parte do jornalismo provou que a liberdade de informar e ser informado é, nos putativos sistemas democráticos do século XXI, um bem crucial dos cidadãos. Por isso a têm atacado tanto. Ela nos separa dum novo tipo de ditadura. A parte dos media vendida ao poder começou por fornecer a música de violinos à propaganda e ao lodaçal que nos afunda. Mas nota-se que alguns ratos que serviam o governo já começaram a abandonar o barco. O sistema — a investigação, o PGR, a cândida Cândida, a justiça, o parlamento, os políticos, os partidos, até a constituição — funciona para alimentar o sistema. A normalidade do sistema que nos andam a vender em comunicados, comunicações e entrevistas é a mais absurda anormalidade para nós, os outros todos. O sistema político-administrativo-judicial-financeiro parece só servir para aguentar o poder e a mentira. À crise económico-financeira gerida pela pior política financeira da UE junta-se agora a pior crise moral das últimas décadas. O sistema mantém-se à tona enquanto o país vai ao fundo. Quantos mais dias, semanas, meses perdurará a presente crise moral?»
Eduardo Cintra Torres, Público
Eduardo Cintra Torres, Público
5 comentários:
Tenho sido incomodado por há longo tempo me incomodar com o Lodo Grosso que vai em Portugal.
Eduardo Cintra Torres, desde que numa cinzenta e desamparada tarde de Novembro ou Dezembro o li, folheando um Público, nas imediações deprimidas da Praça do Marquês deprimida, é claramente um irmão de percepção e de espírito: ali estava ele, naquela odorosa página, a analisar a lógica de controlo mediático, os spin doctors de marketing político pagos a peso de ouro para fabricar um Cenário Opaco ao público da nulidade governamental, a censura sistémica e subreptícia ao humor do Contra-Informação, etc.
O elogio que faz ao jornalismo estendo-o eu a ele, à sua coragem e ousadia em dizer e pensar da Socratura o que tantos temem dizer e pensar, entre os quais me figuro a mim, não sem o sofrimento por assédio - perseguição pessoal, profissional e moral, não sem o escánio de tantos vendidos ao sistema e à anomia alheada.
O meu PM,
e sobre o assunto do dia,
teria dito duas coisas:
Uma, de louvor ao papel fundamental e indispensável da comunicação social, pesem alguns exageros e abusos ocasionais.
Outra, de incentivo e exigência ao PGR, no sentido de a curto prazo, fazer por concluir o processo.
JB
Antológico texto. Afinal é o que todos (os homens-bons que sobram em Portugal) pensamos. Mas Eduardo Cintra Tores disse-o com mestria.
Excelente a análise de Cintra Torres. Pena que tenham sobrado tão poucas vozes lúcidas ou descomprometidas.
Eu sei que não se deve fazer humor com os nomes das pessoas; não é bonito, porque ninguém tem culpa do que lhe deram.
Mas, por vezes, há coincidências que, mesmo contra a nossa vontade fazem - pelo menos - sorrir.
É o caso desta peça do DN de hoje (em "Nacional"):
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«Apesar das buscas realizadas à Câmara de Alcochete, e intercepções telefónicas, por suspeita de crimes de corrupção passiva e participação em negócios, nem o presidente nem os assessores foram ouvidos pela Judiciária.
O ex-presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, e a sua assessora para o urbanismo, Honorina Silvestre, nunca foram ouvidos pela Polícia Judiciária (PJ). Isto embora, a 9 de Fevereiro de 2005, tivessem sido realizadas buscas na autarquia e, dois dias antes, autorizadas escutas telefónicas por suspeita de estarem envolvidos em crimes de corrupção e de participação económica em negócio relacionado com o Freeport.
(...)»
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Eu não sei se este artigo faz parte da tal "campanha negra". Mas o certo é que um dos autores se chama... Negrão...
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